31.12.09

QUE SEJA DIFERENTE:
- se for para chorar que seja de alegria;
- se for para mentir, que seja sobre a idade;
- se for para enganar, que seja o estômago;
- se for para roubar, que seja um beijo;
- se for para sofrer, que seja por não podermos passar mais tempo com os amigos;
- se for para caminhar que seja em conjunto;
- se for para esperar,que seja de mãos dadas;
- se for para ser feliz, que seja o Ano inteiro;

QUE ESTE NATAL SEJA O RECOMEÇO DO UM CICLO MELHOR!

O Blog das Perguntas!http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Festoriasdeoutrosvelhos.blogspot.com%2F&h=233e97247567614529f27f8bbdca2b86 As perguntas poderão ser o caminho Régio para a VERDADE! Alguns diriam: "A PERGUNTA É UMA ARMA" (A boa pergunta, diga-se) Uma Arma contra o Conformismo, a favor da verdade e da lucidez! Quem pergunta procura o caminho!Luís Mourinhahá

22.11.09

Nota sobre os argumentos de autoridade

Os argumentos de autoridade têm uma história nefasta na história da filosofia e da ciência que provoca uma reacção negativa na maioria dos profissionais de filosofia que os consideram. De facto, estes argumentos foram, em diferentes épocas e diferentes contextos, utilizados para calar todo o pensamento próprio, toda a investigação inovadora, toda a criatividade e toda a autonomia. Porém, como toda a restante argumentação retórica (argumentos indutivos, analógicos e causais), estes argumentos mostram-se necessários, de forma inevitável, para a nossa vida diária. Ninguém percebe de todos os assuntos e se, relativamente a assuntos académicos, se pode fazer uma suspensão de juízo em relação a assuntos que não dominamos, na vida quotidiana é necessário tomar decisões em domínios que desconhecemos. No mínimo, é preferível, nestes casos, sustentar as nossas decisões no parecer de autoridades qualificadas do que na nossa opinião ignorante. Por exemplo, é preferível agir de acordo com o parecer das autoridades médicas no referente à gripe A, do que com base em rumores e nos nossos medos.
Quer neste contexto quotidiano, quer em contextos académicos, o cumprimento das regras enunciadas no manual diminui, consideravelmente, o risco de erro, de dogmatismo e de manipulação, mas não o anula. No domínio académico, a sustentação de uma tese apenas por referência a uma (ou muitas) autoridade é sempre inaceitável. Qualquer tese, mesmo que sustentada por autoridades, deve ser justificada por razões, mesmo que sejam as mesmas que as autoridades utilizam. Se quem defende a tese não se sente qualificado para enunciar as razões, remetendo para as autoridades na matéria, também não se devia sentir qualificado para enunciar a tese. Falar do que não se sabe, só para fazer eco das autoridades na matéria, poderá dar muito jeito a acções de propaganda, mas devia ser inaceitável em domínios académicos ou outros deles dependentes.
De qualquer forma, mesmo cumprindo as regras do manual, estes argumentos, como mostra incontáveis vezes a história da humanidade, não garantem qualquer verdade. Aparentemente, se existe consenso entre os especialistas da matéria (2ª regra), parece estar garantida uma enorme probabilidade ao argumento. Porém, se viajássemos no tempo, ao início do sec. XVI e perguntássemos a todos os especialistas de astronomia da época qual a posição da Terra no Universo, todos diriam que ela estava, mais ou menos, no centro do Universo e que o Sol orbitava circularmente em torno dela. Se viajássemos para meados do sec. XVIII, os químicos falar-nos-iam do flogisto. Se para meados do sec. XIX, os biólogos considerariam as espécies como estáticas. Mesmo no início do sec. XX, os físicos continuariam a referir-se ao espaço e ao tempo como absolutos. Ou seja, não podemos ter a mínima certeza de que o consenso científico nos garanta mais o acesso às verdades atingidas do que aos erros da época. Quanto muito, podemos aceitar que, se não somos entendidos numa matéria, temos muito menos razões para afirmar uma tese do que aqueles que toda a vida se dedicaram ao assunto.

NOTA FINAL: Este apontamento visa completar e não substituir a abordagem do manual.

21.11.09

Falácias da saúde

No passado dia 16 de Novembro, diversos responsáveis da Saúde deste país (Ministra da Saúde, Director Geral de Saúde, Director da Maternidade Alfredo da Costa, Directores de serviços de obstetrícia, etc.) fizeram declarações acerca da morte do primeiro feto após ser tomada a vacina para a Gripe A que são especialmente interessantes para a nossa análise das falácias por misturarem o discurso político típico com um infelizmente ainda recorrente discurso científico-tecnológico. Faço notar que o que está aqui em causa não é, como sempre, a verdade ou falsidade das teses mas sim a validade dos argumentos. Aliás, quem, neste caso, está do outro lado são os amargurados familiares que não são, na sua argumentação, menos falaciosos. Mas como não são políticos, nem para-políticos, não nos interessam neste trabalho – tanto assim é que até, neste caso, posso referir a falácia central que cometem, uma das falácias da falsa causa, sobretudo a que é conhecida pela expressão latina post hoc, ergo propter hoc, que consiste em considerar algo como causa de um acontecimento simplesmente por ter ocorrido num momento anterior. Existirão eventualmente outras, sobretudo, nas desesperadas declarações do pai, mas não vale a pena estarmos aqui a explorar situações com elevada carga emocional – já basta o que fazem as televisões.
Julgo, porém, que se houvesse um cultivo generalizado, na nossa educação, na nossa política e na nossa formação académica, mesmo quando tecnológica, da lógica e da honestidade intelectual, não haveria necessidade de recorrer a falácias, sem que, com isso, resultasse alguma situação de descontrolo ou pânico maiores que os actuais. Tomemos, por exemplo, as palavras da ministra Ana Jorge em declarações à RTP:

“Isto não tem nada a ver com o facto de a grávida ter feito a vacina às 34 semanas, três, dois dias, penso eu, antes de ter ocorrido a morte do feto in útero e, portanto, aquilo que nós achamos, neste momento, e todos os profissionais e os técnicos, que esta morte não tem nada a ver com a vacina, é uma coincidência no tempo. Portanto, vamos aguardar a autópsia, mas, provavelmente ou há muita probabilidade, porque muitas vezes as autópsias, nestes casos, também não nos contribuem muito para a identificação da causa. De qualquer forma, estamos seguros, dentro que inclusive já hoje de manhã os obstetras que mais trabalham nesta área têm dito que não há relação causal, que isto não é, não há nenhuma referência no mundo inteiro das grávidas vacinadas que tenha ocorrido uma situação dessas. Portanto, aquilo que nós gostaríamos de transmitir é que todas as grávidas do 2º e no 3º trimestre devem fazer a sua vacina. E também aquilo que me foi dito que aconteceu nesta grávida, no dia da vacina, é um efeito que não está descrito em ninguém que tenha feito a vacina e a vacina não dá, em quaisquer circunstâncias, não dá efeitos imediatos. Os efeitos adversos, os efeitos secundários levam muitas vezes, ou são imediatos, na altura da vacina, que não aconteceu nunca, ou os efeitos secundários, ou os adversos aparecem muito depois e, de facto, não está nada descrito naquilo que aconteceu. Portanto, nós confiamos e garantimos, a vacina é segura e, portanto, apelamos a todas as grávidas que se vacinem.”

Não estamos aqui para avaliar a capacidade oratória da ministra que, como se vê, não é apreciável. Deste arrazoado que chega a parecer contraditório, penso que se pode retirar a seguinte argumentação: «A morte do feto não tem relação causal com a vacinação ocorrida três dias antes. Porquê? Porque não existe qualquer registo, em todo o mundo, da morte de um feto ocorrer por causa da vacinação. Também os efeitos que, segundo a família, começaram a surgir logo a seguir à vacinação, não foram provocados por ela porque, novamente, não há qualquer registo de efeitos deste género que surjam imediatamente. De qualquer forma, vamos aguardar a autópsia, embora seja muito provável que a autópsia não esclareça nada.»
Sublinhei a referência a casos passados porque ela é crucial na argumentação, conjuntamente com a eventual inutilidade da autópsia. Já Jorge Branco, Director da Maternidade Alfredo da Costa, havia sustentado a mesma tese com base no facto de que “não há nenhuma referência internacional de morte fetal após a vacinação contra o vírus H1N1”. Por outro lado, Luís Graça, director de obstetrícia do Hospital de Santa Maria, após defender a mesma tese, com o mesmo argumento (embora este fosse o único a admitir, por absurdo, que, se existisse relação, seria o primeiro caso), acrescenta, relativamente à autópsia: “Em grande número destes casos que sucedem de morte fetal súbita perto do fim da gravidez, na maior parte destes casos a autópsia é, como nós costumamos dizer, branca, não se encontra situação palpável que possa ser atribuída a essa morte, é, pura e simplesmente, a morte súbita.”
Recapitulemos, de novo. Não há relação causal entre a morte fetal e a vacinação. Como sabemos isso? Porque não existe qualquer registo internacional de que tal tenha ocorrido. E como chegaram a tal conclusão em todo o mundo? Através de autópsias que, em muitos casos, não tiveram qualquer resultado (dizer que é morte súbita não é um resultado, é uma declaração de desconhecimento da causa). Ou seja, conclui-se, à partida, que não há qualquer relação porque não há qualquer registo, mas, se se utilizou o mesmo raciocínio nos outros casos, não há qualquer registo porque sempre se pensou que não havia relação com base em não existir qualquer registo. Além disso, a mesma conclusão é retirada da ausência de resultados da autópsia, ou seja, do facto de se desconhecer a causa da morte, em vez de se retirar uma simples interrogação sem resposta, retira-se um pseudo-resultado (a morte súbita) e o reforço da constatação inicial de que não há relação causal entre a morte e a vacinação.

Penso que os médicos dão estes frequentes pontapés na lógica confortados pelo facto de o estarem a fazer por bons motivos e com boas intenções. Estão acostumados a manipular as reacções das pessoas para o bem delas, como quando prescrevem placebos. Porém, é notório que a eficácia da argumentação foi reduzida neste caso, apesar da imensa campanha feita, porque, muito embora tenham uma fraquíssima formação lógica, as pessoas percebem, intuitivamente, que há algo de errado com estes argumentos. O mesmo aconteceu com a morte do rapaz de 10 anos umas semanas antes. A ministra bem veio defender o procedimento médico de diagnosticar uma virose para despachar o rapaz para casa (vindo a morrer dois dias depois). Virose é outro caso de não resultado ou, neste caso, de não diagnóstico. Virose é um diagnóstico tão genérico que inclui desde as mais insignificantes perturbações de saúde até algumas das mais graves doenças que podem ocorrer a um ser humano. Além disso, mas por isso mesmo, não é diagnóstico que razoavelmente sustente a consequência de não ser necessário fazer exames. Ora, qualquer utente dos serviços públicos de saúde, sobretudo os pais, sabem que esse diagnóstico tem como consequência, quase invariável, nos hospitais públicos, não só não serem feitos quaisquer exames, como serem enviados para casa os pacientes. O mesmo não acontece, muitas vezes, nos hospitais privados onde cada exame feito é dinheiro em caixa – e isso tem sido bem notório nesta questão da gripe e na forma como alunos da nossa escola com os mesmos sintomas, foram diagnosticados em instituições dos dois tipos. A razão dos diferentes procedimentos é, portanto, económica e/ou funcional e não médica.
Não digo que não possam ser boas razões. Mas, para mostrar que de boas intenções está o inferno cheio, quando se declara que é uma virose e não gripe, como parece ter ocorrido no referido rapaz e com alunos da nossa escola, sem ter feito exames e para não ter que os fazer, não só se provoca a diminuição de precauções relativamente a eventuais complicações, como se promove a eventual transmissão da gripe relativamente à qual tantas campanhas se fizeram, pois se declara, sem mais, ao paciente que ele a não tem, estando livre de transitar por onde lhe apetecer. Pergunto-me se não seria preferível a honestidade de um “não sei” e a explicação da verdadeira razão para não fazer exames, de forma a não bloquear e a não onerar despropositadamente o sistema com uma doença que é, na generalidade dos casos, banal e sem gravidade. Aliás, muitos são os médicos que o dizem, pelo que tal prática de diagnosticar evasivamente não é sequer generalizada (embora não passasse a ser boa, mesmo que fosse generalizada). Do referido resulta que, ao menos neste aspecto, se é verdade que um tal diagnóstico foi feito para o referido rapaz de 10 anos, a ministra não tivesse razão na defesa feita, muito embora o resultado viesse a ser o mesmo se os médicos reconhecessem que não sabiam o que se passava e o enviassem para casa. Mas, para os pais, poderia ser diferente porque poderiam não se ter sentido, como se sentem tantos utentes, manipulados.
Por fim, voltando ao caso inicial, devo referir que, em todo o caso, só ouvi uma argumentação que, não sei se será verdadeira ou falsa, mas não me pareceu falaciosa. Trata-se do argumento do Director de Obstetrícia do Hospital de São João, Luís Montenegro, que remeteu para a própria constituição da vacina a impossibilidade de relação causal entre a morte do feto e a vacinação. De facto, um argumento causal deve ser capaz de explicar a possibilidade de relação entre a alegada causa e o alegado efeito. A falta dessa explicação leva a uma falácia causal ou a outra congénere (e. g., falácia do acidente, da falsa analogia, etc.). Ao referir a sua incapacidade de perceber a possibilidade da relação com base na ausência do vírus na preparação da vacina, está a abordar pela negativa a explicação da relação. Este procedimento não só não é falacioso, como é o aconselhável em qualquer raciocínio causal.

Dr. Jekyll Primeiro-Ministro e Mr. Hyde Sócrates


Em 24 de Junho, o primeiro-ministro José Sócrates, na sequência do debate quinzenal na Assembleia da República, onde foi questionado pelo CDS-PP acerca do negócio que estava a decorrer entre a PT e grupo Prisa, envolvendo a TVI, à saída do hemiciclo, declarou, segundo a versão digital do jornal Público: “Não estou sequer informado disso, nem o Estado tem conhecimento disso”, insistindo, aliás, que se tratavam de negócios privados em que o Estado não se metia. Ora, recentemente, o semanário Sol revelou que, nas escutas de Março a Armando Vara, no âmbito do processo “Face Oculta”, o primeiro-ministro aborda o negócio que afirma desconhecer três meses depois.
Confrontado com a notícia do Sol, no dia 13 de Novembro, José Sócrates declarou à RTP (entre outros órgãos), junto ao Centro Cultural de Belém, que o jornal em causa não dava uma notícia, mas, antes, fazia um insulto, insistindo que mantinha tudo o que havia dito no Parlamento, não tendo nada a acrescentar. Mas acrescentou. E acrescentou de tal forma que confirmou a notícia que, supostamente, era apenas um insulto, ao avançar com uma estranha hermenêutica que distinguia os conhecimentos informais que eram discutidos em conversas entre amigos e os conhecimentos formais de Estado. Assim, talvez para obviar um possível conhecimento público futuro da escuta, o primeiro-ministro acabou por considerar um insulto que se considerasse que o primeiro-ministro tinha conhecimento daquilo que só José Sócrates tinha conhecimento. De facto, é de ficar espantado com o facto de se poder fazer um tão grade insulto. Mas “ouçamos” José Sócrates (ou será o primeiro-ministro):
“Porque uma coisa é naturalmente discutirmos aquilo que, com amigos, como o fiz, relativamente às notícias que vinham nos jornais e aos conhecimentos informais, outra coisa, como disse no Parlamento, como primeiro-ministro, o conhecimento oficial e o conhecimento prévio, cativo desse negócio: Não tive. Eu não tenho nada a acrescentar ou a retirar. Outra coisa é, e não me apanham nesse jogo, agora, comentar conversas que tive com amigos meus que são do domínio privado e que, lamento muito, não aceito essa ditadura de as querer transformar em conversas públicas.”
Obviamente que esta curiosa distinção não foi enunciada na sessão do Parlamento de 24 de Junho, nem houve qualquer esclarecimento acerca do sujeito elidido na declaração “Não estou sequer informado disso” – quanto ao sujeito ser José Sócrates ou o Primeiro-Ministro. Além disso, também não é esclarecido como é que o primeiro-ministro consegue ignorar os conhecimentos informais de José Sócrates. Talvez se esqueça do que acontece e do que toma conhecimento sob o efeito da poção. De uma coisa podemos já ter a certeza: o primeiro-ministro não afastou, directa ou indirectamente, Manuela Moura Guedes do ar – quanto a José Sócrates...

Embora pareça já fora do domínio da falácia, não posso deixar de comentar a intangibilidade que José Sócrates associa às conversas privadas, considerando uma ditadura querer transformá-las em conversas públicas. Para dizer a verdade, nem consigo perceber o que ele quer dizer. Quererá dizer que só se as conversas forem públicas é que podem ser objecto de um tribunal e de um julgamento? Quer dizer que não se pode investigar ou condenar um mafioso se a informação ou a prova obtida se basear na escuta de uma conversa privada, onde o suspeito encomenda um homicídio ou combina os detalhes de uma operação de tráfico de droga? Ou estar-se-á a referir à consideração política dessas conversas? Mas como algo pode ser investigado e/ou julgado e não poder ser considerado politicamente? É verdade que, neste caso, provavelmente, essas escutas nem poderão ser consideradas, mas devido a um diploma berlusconiano (aprovado, aliás, por Sócrates e pelo “seu” Parlamento) em que se limitam as investigações possíveis dos detentores dos mais altos cargos do Estado. Mas se se trata de evocar a sua situação excepcional, não deveria subsumi-la no enunciado de escandalizados princípios universais que, se fossem tomados em conta, tornariam inúteis todas as escutas – porque de conversas públicas, não é necessário fazer escutas – aliás, só são públicas se estiverem a ser, consentidamente, “escutadas por”, ou seja, emitidas para o público. Tendo em conta que Sócrates teve a maioria na Assembleia da República para poder acabar com as escutas, não se percebe que ele não aceite, só para si, a ditadura de fazer o que fazem todas as escutas judiciais, tornar o privado em público, quando manteve essa ditadura para todos os outros.


19.11.09

Apontamento 2 - Retórica e tipos de falácias (Fil - 11º)

Este apontamento inclui as imagens antes distribuídas, acrescidas dos tipos de falácias. As falácias podem ser consultadas também num glossário incluido no moodle da escola. Podem aceder a ele em http://moodle.esec-sto-andre-bar.rcts.pt/. A disciplina é a de Filosofia do 11º ano. A chave de inscricão para alunos é a que foi referida nas aulas mas com espaços entre as palavras. O apontamento em formato Word pode ser descarregado aqui:

http://groups.google.com/group/riskici/browse_thread/thread/7aa520ea0fb9a832

16.11.09

Falácias das “juventudes”


Não sendo meu hábito indicar casos de falácias sem identificação dos intervenientes, vou aqui abrir uma excepção só para mostrar que não é preciso ir buscar os grandes debates políticos para nos confrontarmos com o discurso político falacioso. Estava eu a percorrer os canais televisivos, quando passo pelo final de um debate (eram 13.50 h.) entre juventudes partidárias num programa da TVI24 intitulado “Rédea Solta”, exibido (não sei se pela primeira vez) no dia 16 de Novembro. Não foi preciso mais de meio minuto para choverem falácias tão banais quanto recorrentes no discurso político. Devo dizer que nunca ouvi mais de alguns segundos deste programa porque o nível da argumentação (e trata-se de um programa argumentativo) é notoriamente tão baixo que não consigo suportá-lo mais tempo. Porém, para enunciar falácias, não é necessário um grande nível argumentativo – arriscaria mesmo a dizer que quanto mais baixo o nível argumentativo, tanto mais falacioso o discurso tende a ser. É claro que é possível encontrar falácias bastante elaboradas, mas a maioria do discurso falacioso é elementar e grosseiro (mas nem por isso menos eficaz junto da população). Pelo contrário, o discurso argumentativo honesto necessita de maior elaboração, esmero e subtileza.
Logo assim que liguei o canal, um jovem do Bloco de Esquerda afirmava que todos os estudos provavam que o aumento das desigualdades (juntamente com a mentalidade consumista) estava associado ao aumento da criminalidade, ao que um representante da Juventude Social-Democrata respondeu num aparte rápido: “Então, quem é pobre, é ladrão.” Para ajudar um pouco na análise, reduzindo a questão ao roubo, da declaração do jovem do BE poder-se-ia extrair que o aumento dos ladrões se devia ao aumento das necessidades económicas e sociais, mas poder-se-ia extrair a afirmação do jovem da JSD? Acresce-se que também as declarações do jovem do BE estão londe de não revelar mácula...

Como, neste caso, não tenho a identificação dos intervenientes, caso alguém queira tratar este caso, consideraria como muito valorizador do trabalho conseguirem junto da TVI a identificação dos envolvidos. Mas, caso não seja possível ou dê muito trabalho, sugiro que dêem maior atenção a este programa – pelo que pude ver, o programa deve ser uma verdadeira mina de falácias. Como os jovens não conseguem fazer grandes argumentações, centram-se nas declarações mais imediatas que podem extrair dos lugares comuns dos seus camaradas mais velhos que são, quase invariavelmente, falaciosos. Desconfio que é capaz de ser quase um curso intensivo das falácias políticas mais recorrentes no nosso discurso político, reduzidas ao seu esqueleto mais patentemente falacioso. Por isso, bom trabalho.

2.11.09

CIDE

BLOG DE INVESTIGAÇÃO 12º I, da Escola Secundária de Alcochete!

CIDE (Cultura, Iniciativa, Diversidade e Empreendedorismo)

Projecto Área Projecto da Escola Secundária de Alcochete

BLOG CIDE.

Blog dedicado ao Empreendedorismo e à Iniciativa.

Visita em:
www.areaprojecto1.blogspot.com

A Guerra do Fogo

Que factores se mostram mais fundamentais no processo de desenvolvimento e de advento do homem? Em que medida o filme de Jean-Jacques Annaud os representa rigorosamente? Qual o sentido global do desenvolvimento da narrativa? Quais as razões para certos aparentes anacronismos na tribo da personagem central? Que aspectos mais o impressionaram? Etc. Abro aqui este espaço para a elaboração de trabalhos de comentário, podendo ter aqui um carácter mais livre que nas eventuais perguntas do teste.

28.9.09

Apontamento sobre a história da cosmologia - A. I.

Como vimos, no ano lectivo passado, na unidade relativa à religião, o homem religioso que emerge desde as mais remotas eras da humanidade, expressa, nas suas crenças, a necessidade de se sentir situado num cosmos ordenado (cosmos opõem-se a caos, nos gregos antigos) pelas forças sagradas, quer no espaço, quer no tempo. Tal como na infância individual do homem, apesar de se sentir esmagado por poderes superiores, necessita de sentir o centro das atenções desses mesmos poderes. A cosmologia que por todo o lado emerge desde a mais remota antiguidade, corresponde-se a estas necessidades: um mundo finito no tempo e no espaço, com a terra no seu centro, criado pelas forças divinas que, de uma forma ou de outra, se ligam aos céus que são considerados, fisicamente, transcendentes ao nosso nível de realidade.
A história a que me vou referir, em traços muito vagos e genéricos, é também a história de como os homens ficaram órfãos dos deuses e de como, ainda hoje, tentam recuperar os seus pais e, com eles, o sentido para a sua existência através da explicação de de onde vimos, para onde vamos e onde, simplesmente, estamos.
Não é de estranhar que, quando o homem rompeu com as explicações fantásticas da realidade (não só na Grécia, mas, como vimos no ano transacto, noutros locais), tendesse a reproduzir os traços gerais das explicações míticas: um mundo finito, originado num tempo longínquo (muito embora a explicação fosse, agora, racional, quer através de forças naturais, quer por acção de um Deus Universal, quer por acção de princípios místicos abstractos), com centro na Terra e uma concepção mais ou menos transcendente dos céus. Sendo estas as características da cosmologia primitiva, é também fácil enunciar quais os problemas que se desenvolverão ao longo da história da cosmologia: 1º O centro do mundo: se o centro do mundo será a Terra (geocentrismo) ou o Sol (heliocentrismo) – e, no final, se sequer tem centro; 2º A contraposição entre heterogeneidade ou homogeneidade do mundo: se a física celeste é a mesma ou diferente (normalmente, transcendente) da da Terra; 3º Se existimos num mundo fechado ou num Universo infinito, quer no espaço, quer no tempo.
Não são apenas as necessidades psíquicas que explicam a concepção primitiva do cosmos. Qualquer pensamento baseado na experiência sensível, na observação empírica, tende para ele. Vemos o Sol rodar à volta da Terra, não vemos nos céus a variedade, a mistura, a corrupção e a morte que vemos na Terra, vendo, ao contrário, uma regularidade matemática que não encontramos em nenhuma coisa terrestre, e, finalmente, não podemos ter qualquer experiência do infinito. Esta última questão será, aliás, a última fronteira entre os espíritos empíricos e os espíritos especulativos, porque, se a concepção geocêntrica terá que se confrontar com cada vez maiores dificuldades empíricas e a defesa da heterogeneidade do mundo acabará por colidir com melhores observações (telescópio de Galileu), a finitude do mundo, quer temporal, quer espacial, não poderá nunca ser desmentida por qualquer experiência imaginável, pois só existe experiência do finito, só sendo questionável por concepções metafísicas e/ou matemáticas.
Na Grécia Antiga, embora a tripla tendência já referida se afirmasse maioritariamente, a dupla tensão da racionalidade, empírica, por um lado, especulativa, por outro, levou a que surgisse todo o tipo de respostas às questões centrais da cosmologia, embora não de uma forma uniforme, onde fosse possível identificar, facilmente, as concepções progressistas e as concepções retrógradas. Por exemplo, Anaxágoras de Clazómenas (assim como os atomistas), filósofo do sec. V a. C. (500-427), parece ser um dos progressistas, visto parecer defender uma infinidade de mundos e a homogeneidade do universo. Porém, não só coloca a Terra no centro do nosso mundo particular (ou sistema), como a concebe plana, a flutuar no ar. Ao contrário, Aristóteles (384-322 a.C.), que parece personificar os conservadores, não só concede a forma esférica à Terra, como concebe o mundo como eterno, contrariamente a Anaxágoras e à maioria dos filósofos do tempo que faziam depender a sua explicação da Natureza de uma cosmogonia. A complexidade do assunto obriga-me, aliás, a não enunciar mais que vagas referências impressionistas. Caso contrário, transformaria o que se pretendia um pequeno apontamento num longo ensaio e este não é o lugar, nem a ocasião para tais desenvolvimentos.
A filosofia e ciência gregas antigas foram, maioritariamente, geocêntricas e finitistas. Embora tivesse havido um notável esforço de muitos autores para a homogeneização da Natureza, a balança acabou por pender para uma concepção diferenciadora da física relativamente à astronomia. Isto aconteceu mesmo com Platão, apesar das suas influências pitagóricas (mas, por outro lado, também por causa delas), ao conceber a astronomia como uma matemática, mais próxima do mundo das ideias que a nossa impura, corrompida e triste Terra.
Quanto ao infinito, muito embora tenham existido rupturas com a concepção maioritária, a filosofia grega sempre teve dificuldade em sequer concebê-lo, não só a nível cosmológico, mas também a nível matemático, quer a nível da compreensão dos números, quer a nível da divisibilidade das áreas. A este propósito, é conhecida a polémica que dividiu os pitagóricos quanto à existência de números irracionais. Estes mesmos pitagóricos, apesar de conceberem a realidade física como matemática, só parecem admitir o ilimitado como componente dos seres finitos a partir de uma cosmogonia em que o ilimitado correspondia ao vazio original, o que se pode considerar como uma versão racionalizada do caos original dos mitos gregos. Porventura, o ápeiron de Anaximandro não será muito diverso, apesar da sua divinização pelo autor, embora seja discutível até que inclua, no seu conceito, o conceito de infinito.
O heliocentrismo, em contraposição ao geocentrismo dominante, teve em Aristarco de Samos (310-230 a.C.) o seu grande defensor da Antiguidade. Contrariamente ao que se poderia supor, não se tratava de um filósofo especulativo, mas, sim, de um astrónomo com os métodos de observação mais exactos de toda a Antiguidade. É possível, porém, que tivesse sido influenciado por teorias mais especulativas de origem pitagórico-platónica. Aliás, os pitagóricos não parecem ter defendido jamais o geocentrismo. Já na primeira fase do pitagorismo, defendiam uma espécie de “pirocentrismo”, em que o centro era ocupado pelo fogo, orbitado pela Terra, a Anti-Terra (imaginada, claro) e os outros planetas, incluindo o Sol. Estes mesmos pitagóricos atribuíram a noite e o dia à rotação da Terra e não à translação do Sol. É incerto, porém, que algum pitagórico ou platónico de inspiração pitagórica tenha defendido o heliocentrismo.
O geocentrismo dominante teve a sua realização máxima na física e cosmologia aristotélica. Será, ainda, contra esta física e cosmologia que se realizaria a revolução astronómica do sécs. XVI-XVII e a revolução física do séc. XVII. A física aristotélica nasce de uma confiança quase ilimitada na experiência sensível. Os elementos da física antiga (ar, água, terra e fogo) são definidos por pares de contrários de características tácteis (seco, húmido; quente, frio), exactamente por o sentido do tacto ser analogamente primitivo como os próprios elementos. Ora, todas as coisas que existem na Terra eram, de acordo com Aristóteles, constituídas, materialmente, de diferentes composições destes quatro elementos. A sua natureza impura e corruptível permitia a mistura de elementos que, naturalmente, tenderiam a fixar-se em quatro esferas distintas, sendo a primeira, a da terra, a segunda, a da água, a terceira, a do ar, e a quarta, a do fogo, razão porque, no mundo terrestre, as coisas sólidas tendiam sempre para baixo e as chamas sempre para cima. Porém, nos céus, não era observável qualquer mistura ou composição, os corpos celestes eram sempre idênticos, descrevendo órbitas mais ou menos regulares em torno da Terra, não registando quaisquer mudanças na sua natureza. Daí, Aristóteles ter concluído que os céus eram constituídos por um único elemento não misturável com os quatro elementos infra-lunares, um elemento puro e incorruptível, o éter.
Por não admitir a possibilidade da existência do vazio, julgou que os astros estariam incrustados em esferas translúcidas ou cristalinas de éter que se encaixavam dentro umas das outras. A própria física do movimento era distinta para os céus e para a Terra: ao passo que, na Terra, existiriam dois movimentos naturais, para cima (o fogo) e para baixo (a terra), tendendo os outros elementos mais para um lado ou para o outro, nos céus, apenas existiria um movimento natural, o circular, o único que era concebível como eterno, adequado às coisas eternas, materialmente constituídas de éter. Porém, visto se verificarem movimentos diversos e até contraditórios entre os astros, Aristóteles teve que supor não só agentes motores próprios de cada uma das esferas (que viriam a ser convertidos em anjos na adaptação ao cristianismo), como a existência de esferas intermédias (e totalmente invisíveis) que explicassem toda a mecânica do Universo. Ao todo, o Universo seria constituído de 59 esferas, 55 das quais de éter, sendo na sua totalidade impelido para o movimento pelo último céu, o céu das estrelas, ele próprio impelido pelo primeiro motor, Deus, embora não mecanicamente, antes como causa final, por o último céu tentar imitar com o seu movimento circular perfeito, a perfeição absoluta da imutabilidade divina.
Quando Cláudio Ptolomeu (+/-90-+/-168 d. C.), já na sequência de Hiparco, propôs o seu sistema de cálculo astronómico, já se haviam verificado muitas incompatibilidades empíricas no sistema geocêntrico aristotélico. Aliás, a proposta heliocêntrica de Aristarco poderia já resultar da verificação de tais incompatibilidades: infelizmente não resistia nem à mentalidade comum da época, nem a algumas objecções empíricas, como a do facto de não se registar qualquer diferença no brilho e direcção das estrelas ao longo do ano – o que não é de admirar, visto só com os instrumentos científicos do sec. XIX se ter detectado, pela primeira vez, a paralaxe das estrelas mais próximas. O sistema de Ptolomeu é uma engenhosa forma de cálculo que tenta conservar, a qualquer custo, os pressupostos fundamentais da astronomia aristotélica: redução de todos os movimentos celestes a movimentos circulares, geocentrismo e, naturalmente, finitude. Logo à partida, porém, para explicar a diferença de brilho e magnitude nos planetas e no Sol, teve que admitir que a Terra não era bem o centro do Universo, ficando o “verdadeiro” centro um pouco ao lado. Além disso, para explicar os movimentos retrógrados dos planetas, teve que introduzir os epiciclos, movimentos circulares em torno de um centro situado na órbita primária. Finalmente, para explicar porque se moviam os planetas, por vezes, mais depressa que noutras vezes, teve a necessidade de introduzir, periodicamente, um equanto que, durante esse período, se tornava o “verdadeiro” centro da órbita, um pouco mais próximo do astro, tendo este que descrever, assim, um círculo menor. Estas complicações ad hoc salvaram durante muito tempo o sistema geocêntrico, permitindo o cálculo dos movimentos astronómicos, mas fizeram-no de forma assaz artificiosa, sendo difícil compreender como é que epiciclos e equantos se encaixavam nas esferas de éter e na suposta uniformidade e perfeição do seu movimento. De facto, as já artificiosas 55 esferas de Aristóteles transformavam-se em mais de 80 movimentos simultâneos, só para explicar o movimento de sete astros.
Só mesmo a história pode explicar a manutenção deste sistema por tanto tempo. A Europa afundou-se na barbárie da Alta Idade Média e a cultura clássica quase se perdeu. Coube ao Islão cultivá-la e trazê-la de novo para a Europa Ocidental através da Espanha muçulmana. Redescoberto nos sécs XII e XIII no Ocidente (só se conheciam, antes disso, dois livros de lógica de importância menor), Aristóteles provoca uma revolução intelectual na Cristandade que acabou com a sua adopção como referência dogmática para o estudo da Natureza, após as necessárias adaptações de Tomás de Aquino (e.g., negação da eternidade do mundo defendida por Aristóteles). Porém, se Aristóteles é o grande responsável pelo Renascimento do Sec. XIII (que continua pela 1ª metade do XIV), será um dos grandes entraves do Renascimento dos sécs. XV-XVI, culminando com os episódios dramáticos da morte cruel de Giordano Bruno em 1600 e do julgamento de Galileu Galilei em 1633.
É preciso, porém, não confundir o Renascimento dos sécs, XV e XVI com a ciência mecanicista que emerge no sec. XVII. É verdade que existe uma redescoberta do interesse pela Natureza no Renascimento (já antecipado por uma figura do séc. XIII e por algumas outras do século XIV), mas tal redescoberta tem um cunho mágico, alquímico, estético e místico, em vez de matemático e mecânico como acontecerá com a ciência moderna. Como vimos nas aulas, o próprio geocentrismo vai se alterando, fundindo-se com concepções alquímicas e místicas, em parte já provenientes da Idade Média, primeiro inserindo as esferas dos anjos para lá da esfera das estrelas, recuperando a música das esferas pitagórica, introduzindo uma esfera última da mente para observar o mundo platónico das ideias, etc. Aliás, o Renascimento é também a redescoberta das concepções pitagóricas e platónicas, embora explorando os seus aspectos mais esotéricos e místicos, contrariamente ao que acontecerá no sec. XVII, e essas influências não são irrelevantes para compreender as revoluções que irão ocorrer. Uma única figura desta época surge como uma ponte de ligação entre as concepções renascentistas e as mecanicistas: Leonardo da Vinci (1452-1519).
Porém, ainda antes de Leonardo, uma outra figura, muitas vezes esquecida, pesa na nossa história de forma incontornável: Nicolau de Cusa (1401-1464). A partir de considerações de ordem metafísica sob influência platónica (como sempre acontecerá), Nicolau afirma de forma mais clara que qualquer autor da Antiguidade, a infinitude do mundo, abolindo por completo a heterogeneidade da física aristotélica e admitindo, visto não existir razões para não supor geração e corrupção nos outros astros, a existência de seres vivos noutros planetas. Afirma, igualmente, embora de forma não muito clara, o movimento da Terra, não perfeitamente circular, tal como a sua forma esférica (e, em ambos os casos, com razão). Naturalmente, nem tudo foram antecipações das teses futuras, havendo até casos de retrocesso, como na atribuição de luz natural à Terra e à Lua. Em certos aspectos, a sua física, desenvolvendo a física occamista do séc. XIV, antecipará a de Leonardo que, recebendo igualmente a influência da redescoberta de Arquimedes, estará na origem directa da ciência galilaica.
Contrariamente ao que é afirmado pelo manual, não foi o aumento da precisão das observações astronómicas que levou ao sistema copernicano. Já depois das descobertas copernicanas, embora não da sua publicação, o nosso Pedro Nunes terá inventado o instrumento mais rigoroso da época (o nónio) e, mesmo depois de conhecer a teoria copernicana, manteve-se sempre um defensor do geocentrismo. Se se tratasse de uma mera questão empírica, os observadores com os instrumentos mais rigorosos da época deveriam ter dado o aval ao novo sistema e isso não aconteceu. Nicolau Copérnico (1473-1543) inscreve-se, inequivocamente, no Renascimento místico, pitagórico e platónico, com toda uma série de ressonâncias alquímicas, cabalísticas e esotéricas, que o motiva para a descoberta de um modelo matemático, adequado ao ideal clássico da simplicidade, onde o Sol assume o papel de símbolo físico ou até manifestação directa do divino. Embora também razões de ordem metafísica, a fazer lembrar os pitagóricos, tenham presidido à sua escolha do Sol, o facto decisivo terá sido a redução dos mais de 80 movimentos ptolomaicos para apenas 34. A maior simplicidade do modelo terá convencido, em primeiro lugar, o próprio Copérnico, em segundo lugar, de forma apenas utilitária, as próprias autoridades eclesiásticas para a elaboração dos seus calendários, porventura também os empreendimentos de navegação e, por fim, a elite intelectual da época.
O cosmos de Copérnico está, porém, mais próximo de Ptolomeu e Aristóteles, do que do nosso. Insiste e até aperfeiçoa a tese do movimento circular como único movimento natural dos céus. Embora elimine os equantos, mantém a excentricidade e os epiciclos. É verdade que, na sequência de Cusa, ao explicar a gravidade como um fenómeno local resultante da tendência da matéria a formar massas esféricas, reduziu, significativamente, a heterogeneidade da física. Porém, insiste, ao contrário daquele, na finitude do mundo. É verdade que, para explicar a ausência da paralaxe das estrelas, as distancia de forma imensa e extraordinária da nossa órbita. Mas o mundo continua fechado. Por fim, inventa um movimento inexistente para a Terra e continua a manter uma margem de erro que deixou em aberto problemas a resolver pela investigação astronómica que levariam à solução final relativa ao sistema solar em menos de um século.
Entre muitos outros modelos surgidos na época, o seguinte passo mais decisivo foi dado por Tycho Brahe (1546-1601), astrónomo dinamarquês, cujos registos astronómicos são os mais detalhados do período anterior à invenção do telescópio. Este investigador é, usualmente, esquecido de forma injusta, devido ao facto de restabelecer o sistema geocêntrico. De facto, ao chamar a atenção para as inexactidões copernicanas, ao romper, definitivamente, com qualquer possibilidade de conceber o universo como um conjunto de esferas cristalinas, visto só o sol, a lua e as estrelas orbitarem à volta da Terra, orbitando os restantes astros em torno do sol, ao aumentar a precisão do cálculo dos movimentos astronómicos e, finalmente, ao fornecer, nas vésperas da morte, os seus registos a Kepler, Brahe foi um elo fundamental para a fundação da astronomia moderna e, com ela, da ciência moderna.
Juntamente com a influência de Brahe, não é de negligenciar o desenvolvimento dos estudos empíricos das órbitas dos cometas que levaram a que definitivamente se enterrasse a hipótese peripatética de eles serem fenómenos meteorológicos, assim como a muito renascentista, ainda, formação mística pitagórico-platónica, na origem da solução kepleriana final dos movimentos celestes. O astrónomo alemão Johannes Kepler (1571-1630) foi, durante a sua vida, conhecido das cortes europeias como grande astrólogo, muito embora a sua verdadeira astrologia (não tanto a dos conselhos fornecidos ao imperador) fosse uma cosmologia mística. Para lá de muitos outros contributos, como a observação da supernova de 1604 que contribuiu para a refutação da imutabilidade celeste defendida por Aristóteles (ainda por cima, logo no céu mais próximo de Deus), Kepler, após longos anos de ensaio e erro, preso ao pressuposto metafísico do movimento circular, tentando compatibilizar os modelos teóricos com os movimentos celestes (sobretudo o de Marte), descobriu, enfim, as leis que o iriam imortalizar: em primeiro lugar, substituiu o movimento circular pelo elíptico, com o Sol num dos focos da elipse; em segundo lugar, descreveu matematicamente as diferenças de velocidade dos planetas como resultantes da sua ligação ao Sol, visto o raio de ligação do planeta ao Sol percorrer, em tempos iguais, áreas iguais; finalmente, como corolário das suas especulações pitagórico-platónicas, estabeleceu a lei que estabelece uma correlação entre a distância de cada planeta relativamente ao Sol e o período de revolução de cada um deles, permitindo que se concebessem, pela primeira vez, as órbitas planetárias como pertencentes a um sistema matemático, expressável numa lei única, o sistema solar. Porém, a estas leis descritivas faltava um elemento fundamental: a causa – e esta só seria estabelecida, após os contributos de Galileu e Descartes, por Isaac Newton.
Entretanto, outro problema cosmológico fundamental se ia desenvolvendo: o problema da finitude ou infinitude do Universo. Embora Kepler haja dado um contributo fundamental para abrir o mundo fechado de Aristóteles, a verdade é que, como todos os investigadores mais inclinados para os critérios empíricos, tinha muita dificuldade em lidar com a hipótese da infinitude. Frente às teses de Bruno ou Gilbert (apesar da influência do magnetismo deste último sobre ele), ele declara: “Este pensamento transporta consigo não sei que horror secreto: com efeito, encontramo-nos errando nesta imensidão à qual foram negados qualquer limite, qualquer centro e, por isso mesmo, qualquer lugar determinado.” Também Galileu Galilei (1564-1642), apesar dos contributos empíricos das observações telescópicas para a refutação da heterogeneidade do cosmos (manchas solares, satélites de Júpiter), preso como está ao movimento circular do modelo copernicano, não extrai consequências da sua lei da queda dos graves (não chega à lei da inércia – sigo aqui Koyré)) e mantém uma atitude de suspensão de juízo relativamente ao problema da finitude do universo. Quanto a Giordano Bruno (1545-1600), apesar do esforço posto na publicitação das teses infinitistas que lhe valeram, por fim, a fogueira, a sua metafísica desvairada mais não fez do que afirmar de forma inequívoca o infinitismo de Cusa, introduzindo nele a novidade do copernicanismo.
Foi, porém, a dois grandes matemáticos e metafísicos que se deveu a afirmação do infinitismo no cerne da nova concepção matemática do universo da física moderna: René Descartes (1596-1650) e Gottfried Leibniz (1646-1716). Embora as suas concepções sejam muito diversas (mecanicista a primeira, dinamista a segunda), ambos, ao conceberem, a priori, a realidade física (embora a extensão seja fenoménica para Leibniz) como uma realidade matemática, transferem para aquela as propriedades desta. Por outro lado, a inteira matematização do Universo por parte de Descartes, permitiu-lhe afirmar, sem hesitação, a lei da inércia como fundamento da sua mecânica, ao contrário de Galileu, estranhamente preso ao pressuposto aristotélico do movimento natural dos céus (circular) e aos critérios empíricos de que partia. Em vários livros e manuais com reduzido conhecimento histórico, atribui-se a descoberta da lei da inércia a Newton, ignorando o facto de Descartes chamar primeira lei da natureza à lei que afirma que cada coisa se mantém no estado em que está enquanto nada o mudar (Princípios, II,37). A esta, mais adiante, se acrescenta a segunda: que todos os corpos que se movem, tendem a continuar o seu movimento em linha recta (Princípios, II,39) - sendo que, nas explicações dadas logo na primeira lei, se percebe que também não há razões para a velocidade se alterar.
É a Isaac Newton (1642-1727) que coube o mérito de resolver, definitivamente, a segunda questão cosmológica, unindo os contributos das leis do movimento celeste (Kepler), da lei da queda dos graves (Galileu) e da lei da inércia (Descartes, conforme foi demonstrado por Koyré), na lei da gravitação universal. Ao estabelecer tal lei para quaisquer duas partículas do Universo, Newton encerra, de vez, a possibilidade de distinguir uma física da Terra de uma física dos céus.
Concluindo, se Kepler encerrou, do ponto de vista da evolução histórica, a polémica entre geocentrismo e heliocentrismo, a favor do heliocentrismo (na medida em que superou a última tentativa, com valor científico, de geocentrismo, a de Brahe), se os infinitistas e até mesmo os que suspenderam o juízo acerca desta questão (como Galileu e Newton), mas que admitiam um universo imenso, foram superando o próprio problema do centro, foi com Newton que se resolveu o problema da heterogeneidade ou homogeneidade do universo e da física a favor da última. Já o problema da finitude ou infinitude do universo que, muitas vezes, se julgou estar resolvido a favor deste último, é ainda hoje um problema em discussão.
A chamada (inicialmente por sarcasmo) teoria do big-bang volta a defender um universo finito quer no tempo, quer no espaço (pois se está em expansão, por muito que se tenha expandido, é finito). Implícita na teoria, incapaz de explicar a causa primeira de forma física, parece-me estar presente uma ressurreição do criacionismo. Por outro lado, muito embora a teoria seja de natureza bastante especulativa (visto alguns dos passos fundamentais estarem por explicar), tal como no passado, os seus pressupostos são empíricos, partindo do nosso ponto de vista relativamente ao Universo observável (supondo que o Universo que se observa em expansão é todo o Universo), da radiação de fundo do céu e de dados da física das partículas. Outras teorias mantêm a discussão, partindo de motivações mais metafísicas que não suportam a concepção intelectual supostamente irracional de um universo limitado, quer defendendo a infinitude temporal, corolário da teoria do big-crunch que levaria a uma espécie de eterno retorno de expansões e contracções, quer defendendo o modelo de explosões localizadas de Fred Hoyle (1915-2001) – correcção de 93 do seu modelo estático anteriormente refutado, modelo que não admite origem temporal e onde não se encontra razão para a limitação espacial. Embora, actualmente, a teoria expansionista pareça vitoriosa, a história da ciência há muito que nos deveria ter ensinado a não tirar conclusões precipitadas e a manter a mente aberta à discussão.

20.9.09

Apontamentos de Lógica para Filosofia - 11º ano

Bem vindos a Riskici. Podem usar este link para transferirem o apontamento de lógica:
http://groups.google.com/group/riskici/browse_thread/thread/92961ead662e625b

11.9.09

Falácias para-políticas - as "análises" das sondagens

Apenas como ilustração de que o domínio das falácias políticas, excede muito o das declarações dos políticos oficiais, até porque outros actores têm também agendas políticas a cumprir, ouvi hoje, dia 11 de Setembro, pelas 11 horas da manhã, um dos responsáveis pela sondagem da Universidade Católica (penso que seria Pedro Magalhães, mas não tenho a certeza - não tomei nota e era uma comunicação telefónica) a explicar, na RTPN, que a descida do PS, na sondagem hoje apresentada, em relação ao estudo de Abril (de 41% para 37%), seria uma consequência do resultado das Europeias. Ou seja, as sondagens que antes eram tomadas como indicadores para o provável resultado das eleições, parecem, nestas declarações, substituir as eleições. Em vez de admitir o simples erro da sondagem de Abril, toma essa sondagem como a base de comparação, considerando esses resultados como reais, passando os resultados das Europeias a figurar apenas como um epifenómeno susceptível de influenciar os resultados desta sondagem. Aliás, o responsável em questão excluía, por completo, a possibilidade de o PS ter um resultado semelhante às Europeias, não admitindo, pois, qualquer possibilidade de um erro crasso na sondagem, até porque não o admitia para a de Abril. Para ele, os 41% de Abril eram reais, os 26,5% das Europeias um epifenómeno de menor importância e os 37% da sondagem actual um indicador prejudicado por alguma confusão criada pelas Europeias. Consultando, aliás, o Jornal de Notícias, cheguei, aliás, à conclusão que os responsáveis da sondagem nem sequer acreditam muito na importância do epifenómeno, atribuindo, também, a mencionada descida (em relação à sondagem de Abril, como se as eleições nunca fossem termo de comparação) ao facto de a sondagem ter sido realizada durante o episódio da censura a Manuela Moura Guedes.
Não pude deixar de me lembrar que certos órgãos de comunicação social, na própria noite das eleições europeias, imediatamente a seguir a se ter provado o erro das suas sondagens, mesmo as do dia das eleições, apesar dos resultados apurados contrários, apresentaram como um facto que, segundo sondagens por eles encomendadas, se as legislativas fossem naquele dia, Sócrates teria ganho essas eleições. Ou seja, procuraram, imediatamente, desmentir o resultado das eleições que tinham acabado de ter lugar, pelo menos no que se referia às eleições “a sério”, ou seja, as legislativas.

Novo ano, novas falácias - as deduções fiscais

Já a pensar nos trabalhos de 2009/10, entre as muitas falácias com que os nossos queridos políticos nos têm brindado, tenho que referir aqui uma que excede o nível ordinário, não tanto pela falácia em si (que é relativamente usual no discurso político), mas pela campanha que sustentou, claramente alicerçada na falta de formação lógica do povo português, incluindo esses especialistas de tudo (sobretudo, dos interesses que representam) que são os comentadores. Trata-se da acusação de José Sócrates no debate com Francisco Louça (8/9/2009), de ataque da força política deste último à classe média, com base na proposta de extinção das deduções fiscais das despesas da saúde e da educação. Alegava Sócrates que isso implicaria aumentar imensamente os impostos da classe média. Por duas vezes, Louça alegou que tal proposta estava dependente da condição de tornar o acesso à saúde e à educação gratuitos, incluindo medidas para tornar os manuais gratuitos, e, em ambas as ocasiões, a condição foi ignorada, sublinhando Sócrates a medida fiscal proposta como estando escondida (!) num programa público. Ora, se a saúde e a educação fossem verdadeiramente gratuitas, que despesas é que se poderiam deduzir fiscalmente, se elas haviam sido zero? Como se teriam tirado à classe média mil milhões de euros (não sei se o número avançado por Sócrates, incluiria também os PPR ou apenas as deduções na saúde e educação), se se tivessem reduzido a nada as despesas nestes sectores? Isso só aconteceria, se se tivesse optado pelo sector privado, o que se tem mostrado necessário devido às cada vez maiores deficiências do sector público. Mas se o sector público tivesse a universalidade que já teve, porque iria o Estado estar a financiar a opção pelo privado? Ora, em todo o debate, Sócrates ignorou sempre a condição do carácter gratuito desses sectores na proposta de Louça – e podê-lo-ia não ter feito, atacando o peso financeiro extremo que constituiria, para o Estado, a Saúde inteiramente gratuita, incluindo todos os remédios, e a Educação inteiramente gratuita, incluindo todos os manuais e outro material escolar – só que isso não conseguiria atingir imediatamente o objectivo pretendido que era, claramente, o de aterrorizar a classe média.
Seria de esperar que, entre tantos comentadores, algum houvesse capaz de detectar uma falácia tão básica (que não nomeio aqui para que os alunos a possam identificar no futuro). Mas, de que me tivesse dado conta, não só nem um o fez, como a esmagadora maioria considerou que esse foi o momento decisivo em que Sócrates venceu o debate. Ora, é sabido que grande parte dos comentadores é constituída por emissários políticos dos partidos ou de outras forças com importância política (empresários, igreja, sindicatos, etc.), mas uma tal apreciação generalizada só pode ser sinal de outra coisa (eventualmente, misturada com os tais interesses): uma enorme falta de cultura lógica, quer formal, quer argumentativa, do povo português. Que uma falácia grosseira possa ser alvo de um aplauso geral, animando as hostes do aparelho socialista a usá-la cada vez mais, sem qualquer voz de protesto contra a manipulação envolvida, é algo que só pode acontecer porque a cultura e a formação do nosso país, com muita literatura, com muita poesia, é, porém, grosseiramente ilógica.

Notas: Em eventual trabalho, possuo a gravação do debate, podendo, assim, fornecer as citações exactas.
A 2ª imagem é meramente exemplificativa dos comentadores. Nem ouvi qualquer comentário nesta campanha de um dos jornalistas/comentadores representados na imagem.

20.6.09

7.6.09

PS - Os lideres da encenação

Para já não falar da manipulação das sondagens, quem é que encheu salas e ruas e praças com comícios e arruadas? E alguém duvidará que há um efeito de "Maria vai com as outras" nas eleições? Se assim é, qual não seria o resultado do PS se não fosse toda a encenação que esse partido tem sabido fazer como ninguém?

5.6.09

MEP - O centro da nossa democracia

Como estou impedido de responder no seu blog, respondo aqui. Para lá da espantosa democraticidade revelada por este partido que, por falta de argumentos, barra os comentários (que, como podem ver na entrada anterior, nada tinham que não fosse do foro próprio da discussão política), já aprendeu a responder absurdamente às contraposições, com as falácias habituais, nomeadamente negando os argumentos com aquilo mesmo que era o teor do que era atacado por esses argumentos. Veja-se esta pérola:
António Muñoz - lAURINDA ALVES voto em si em plena confiança porque conheço a sua obra em prol da educação e da cultura,que só um cego pode cunfundir com o "centrão"...Não ligue a baboseiras e FORÇA COM O MEP !
Ao que parece só a quem critica o movimento é que é requerido ler o programa. Um apoiante não o tem que ler e até o pode negar. A única posição ideológica do MEP é a de pertencer ao centro. Nem se sabe ao certo de que é que é centro esse centro. Estaline era centrista e, se formos a ver bem, Salazar também (vão estudar um pouco que só vos faz bem - obviamente que nem Estaline, nem Salazar, eram centristas para os sistemas liberais). Aliás, qualquer poder dominante tende a constituir-se como centro, deixando, para as margens esquerda e direita, os excluídos que tentam alterar o centro do poder. Mas presumo que isto seja complicado demais para a posição singela deste apoiante.
Porém, há aspectos bem mais extraordinários em tão curta contribuição. Segundo António Muñoz, quem pertence ao "centrão" não pode ter qualquer obra válida em prol da educação e da cultura. Eis algo duplamente espantoso. Primeiro, porque considera toda a gente desse vasto "centrão" como boçal, coisa que eu que não morro de amores pelo "centrão", nunca me lembraria de considerar. Segundo, porque, estranhamente, a linguagem do programa do MEP em relação à educação (e, porventura, à cultura) é tal e qual decalcada da linguagem do tal "centrão" - aliás, não é de estranhar que um dos maiores representantes da política educativa centrista, Roberto Carneiro, seja um dos apoiantes do movimento.
Outro aspecto interessante é o facto de se considerar que Laurinda Alves fez um grande trabalho no domínio da educação. Talvez seja o sinal dos tempos, considerar que uma jornalista é uma incontornável referência da educação, ao passo que um professor é desprezível nesse domínio. É compreensível. Afinal, os jornalistas têm sido a principal força educativa (ou deseducativa, conforme a perspectiva) dos portugueses nestas últimas décadas. Além disso, todos sabem que único trabalho que existe e tem valor é o que aparece na televisão. Daí que baste ter falado sobre educação na televisão para se ser um especialista de educação. De facto, pensando bem, até o Miguel Sousa Tavares é um desses especialistas - para lá do facto de provir de boa família no domínio cultural, o que ainda mais reforça a sua autoridade.
Mas a verdadeira epifania do comentário que estou a comentar é a que ocorre em todos os comentários dos apoiantes de líderes políticos e congéneres. A pura confiança na candidata! Isto para rejeitar uma questão crítica quanto à possibilidade de o movimento estar a pedir um cheque em branco para a sua eleição ou um puro acto de fé na personalidade dos seus candidatos! Fez-me lembrar os actos de violência cometidos por radicais islâmicos pelo facto de o papa ter insinuado que o Islão era violento. Infelizmente, já não me surpreende esta constante absurdidade e estultícia que se revela sempre que está em causa a defesa de um colectivo.
Costumo dizer que gosto muito de pessoas, mas detesto gente. Estas pessoas serão, com certeza, normalmente, inteligentes e abertas à discussão. Mas, agora, estão na fase de ser "gente", de defender o colectivo a que pertencem... Bem tentam dizer que são um movimento e não um partido... Mas o que há de mais negativo num partido é ser composto de gente e não de pessoas, de transformar as mais inteligentes pessoas em tristes transmissores de falácias, absurdidades e contra-sensos. É por isso que é sempre mais interessante ouvir um político que já saiu do activo - é que ele já pode, de novo, ser pessoa. Ao agir desta forma, até podem ser diferentes de um partido, mas naquilo que constitui a característica mais negativa dos partidos, são exactamente iguais.

O espírito democrático dos nossos partidos

Julguei que um pouco de discussão verdadeiramente política, negada pelos grandes partidos, pudesse ser recebida pelos partidos que, pela sua dimensão, quisessem tornar conhecida a sua mensagem. Mais uma desilusão... Ainda consegui uma resposta a um comentário, mas, em seguida, já não admitiram mais discussão. A minha resposta foi barrada. Se vier a deixar de o ser, retirarei este artigo. Em seguida, apresento o meu comentário inicial e a resposta, ambos editados em http://melhorepossivel.blogspot.com/2009/06/mep-destaca-se-nas-sondagens.html , assim como a minha resposta barrada.
quimnar - Qual o interesse de mais um partido para ocupar o centrão? E juntar às generalidades vagas, mais generalidades ainda mais vagas? Será que é porque no centro se sentem mais aconchegados, mais tranquilos, mais urbanos e burgueses? Ou será apenas a procura de vingar através de uma brecha de descontentamento, de fornecer uma "alternativa" tranquila, não problemática e bem comportada, ao descontentamento existente relativamente aos partidos do centrão? Que se pode esperar de um movimento que tem como única ideologia a banalidade reservada pela caixa de Pandora a todos os humanos? Será que, para vendedores de ilusões, não nos chega já Sócrates, seus associados e seus clientes? Qual a vantagem de um movimento que fornece como "segredo" ilusões vagas sem qualquer compromisso concreto, como se pedisse um cheque em branco para a sua eleição ou um puro acto de fé na personalidade dos seus candidatos?
Carlos Albuquerque - Quimnar, não percebo porque usa expressões como "generalidades vagas", "única ideologia a banalidade reservada pela caixa de Pandora a todos os humanos", "vendedores de ilusões", "ilusões vagas sem qualquer compromisso concreto". O MEP tem um programa e um programa para as eleições europeias que me parecem bem concretos e desenvolvidos.
Quimnar - Eu li o programa. Nada lá vi que não pudesse estar (e não esteja) num programa do PS e/ou do PSD. Parece um manual de ideologia do "politicamente correcto" que tenta não se comprometer com ideologia nenhuma. Lembra vagamente (descontando as mudanças conceptuais que o tempo foi introduzindo no léxico do "politicamente correcto") o PRD sem a figura napoleónica de Eanes. Mas o meu comentário incidia sobre a mensagem fundamental que é transmitida aos eleitores: uma mensagem que se refere a atitudes e não a medidas e que troca propostas por juízos de valor tão vagos quanto é possível ser vago e tão vazios quanto é possível ser vazio. "Ser melhor" não quer dizer concretamente nada. É, aliás, uma declaração sem sentido. Tal declaração está incompleta enquanto não lhe for dada referência. Não se pode ser melhor "em tudo, sempre e independentemente das circunstâncias". Não se pode ser melhor, simultaneamente, na guerra e na paz, na cooperação e na competitividade, na livre iniciativa e na planificação estatal, no progresso para uma sociedade mais igualitária ou para um sociedade mais (economicamente) liberal, na valorização do mérito e na nivelação das exigências para uma maior inclusividade, etc. É necessário optar, é necessário tomar posição - e até admito que o façam, embora sem qualquer originalidade, mas, em seguida, ocultam-no nas mensagens centrais, de forma a não se mostrarem comprometidos com qualquer posição, com qualquer ideologia. Ao fazerem-no, esperam a adesão dos eleitores como os consumidores aderem aos produtos publicitados, por a mensagem ser apelativa, numa adesão emocional, e não por qualquer conteúdo político específico ou argumento racionalmente válido.

4.6.09





FORMAÇÃO DE FILOSOFIA COMO PROJECTO NO BARREIRO e em Setúbal (nos respectivos Centros de Formação), a partir de Setembro 2009.
Oficina de Formação, para o desenvolvimento de Projectos de aplicação na Sala de Aula, em Moodle (Plataforma Educativa aplicável o Grupo 410/10ºB).

Luís Mourinha

29.5.09

12.5.09

A noção de pré-ciência

A abordagem de T. S. Kuhn da história da ciência tem um forte pendor sociológico. Daí que, segundo Kuhn, só se possa falar de ciência quando exista uma comunidade científica formada por um modelo conceptual, lógico, metodológico, técnico e filosófico, comum. A noção de pré-ciência refere-se às fases pré-paradigmáticas em que uma área de investigação ou se restringe à recensão de factos ainda não explicados (por muito rigorosa que seja a constatação desses factos), ou em que se multiplicam as explicações, normalmente pouco fundamentadas, sem que haja qualquer consenso na comunidade que as considera. Esta fase pré-científica carece, por falta de paradigma, de organização, quer da recensão dos factos (parecendo todos igualmente importantes, ou restringindo-se apenas por questões de acessibilidade), quer da investigação, quer dos pressupostos filosóficos, quer do aparelho conceptual, quer das metodologias, quer das técnicas, etc.
Actualmente, parecem ter um estatuto claramente pré-científico, por exemplo, as pesquisas sobre fenómenos paranormais, onde nem sequer teorias suficientemente consistentes se conhecem, mas poder-se-á perguntar se não se mantém nessa situação também boa parte das ciências sociais e humanas, apesar de a estas já ser reconhecido um estatuto académico. De facto, nestas últimas, parecem existir paradigmas que constituem comunidades científicas que desenvolvem a sua investigação e o seu trabalho académico. Porém, não existe um só paradigma por área de investigação, provocando uma concorrência entre teorias onde tudo se discute sem possibilidade de entendimento (como é comum entre paradigmas), visto cada qual avaliar a outra teoria segundo os seus próprios critérios. O que acontece nas ciências sociais e humanas parece corresponder mais a um período de crise científica ainda antes de se ter alcançado um paradigma consensual. O próprio Kuhn se interroga a este propósito: “poder-nos-emos perguntar quais os ramos das ciências sociais que já encontraram tais paradigmas”; e, em sentido contrário, mas concordante, mais adiante: “Em certos sectores das ciências sociais, é bem possível que essa evolução esteja a ocorrer actualmente”, referindo-se à evolução dos livros para os artigos especializados, sintomática da instauração de um paradigma (The structure of scientific revolutions, I, trad da trad. fr. Laure Meyer). A este último propósito, o seguinte trecho é esclarecedor: “Apenas nos primeiros estádios do desenvolvimento das ciências, anteriores ao paradigma, é que o livro possui, regularmente, o carácter de realização profissional que conserva ainda noutros géneros de criação. E é somente nos domínios onde o livro (...) continua a ser um meio de comunicação para a investigação, que as exigências da profissionalização são suficientemente vagas para que o profano possa esperar pôr-se ao corrente do progresso, lendo os textos originais dos especialistas.” (idem) A partir da instauração do paradigma, a comunicação torna-se esotérica e explicitamente destinada unicamente aos colegas da comunidade científica, os únicos, aliás, capazes de entender os problemas crípticos a que se dedicam.
Regressando ao problema inicial, não se deve confundir o período pré-científico com o período de revolução científica. No segundo, muito embora não haja momentaneamente um paradigma dominante, existe uma comunidade científica que se formou no paradigma anterior e que acabou por se cindir entre os partidários do modelo conservador e os do novo modelo. Também não se deve confundir a pré-ciência com a pseudo-ciência. As pseudo-ciências podem até possuir um paradigma consensual (não se confundindo, assim, com pré-ciências), mas não se sujeitam ao trabalho empírico que, mesmo em Kuhn, é condição de cientificidade. Daí que, por exemplo, Kuhn considere que os astrónomos podem aprender com os seus erros, ao passo que os astrólogos não.

O critério popperiano de demarcação – A teoria da falsificabilidade

Por solicitação de alguns alunos, aqui vai um pequeno apontamento que resume a abordagem do assunto correspondente na aula:

Segundo Popper, uma teoria, para que se possa considerar uma teoria da ciência empírica, deverá ser capaz de enunciar os casos em que, se fossem verificados, seria refutada. Se o objectivo da ciência é a busca da verdade, deverá, em vez de impor (como se fosse uma religião) aquilo que diz como verdade definitiva, testar rigorosamente as suas teorias em busca de falhas, tentando aproximar-se cada vez mais da correspondência exacta à realidade, nunca, porém, se podendo ter a certeza de a ter atingido.
Exemplificando o modelo proposto por Popper, para que a proposição “Todos os cisnes são brancos” possa ser aceite na ciência empírica, deve ser capaz de formular os enunciados básicos potencialmente falsificadores, ou seja, os possíveis factos que, caso se verificassem, refutariam a proposição, enunciados semelhantes a esta forma: “Foi visto um cisne da cor x (laranja, azul, verde, rosa, preto, etc.) no lugar y e no tempo z.” Caso se verifique um só caso bem atestado que corresponda à forma acima exposta, a proposição é refutada. Por exemplo, eu tive a oportunidade de ver várias vezes, há uns anos, dois cisnes pretos no centro do Barreiro. Logo, a proposição está refutada. Se fizermos uma nova proposição, “Todos os cisnes são brancos ou pretos”, ela deve-se sujeitar, de novo, à falsificabilidade, mantendo-se sempre provisoriamente aceite enquanto não se registe nenhum caso falsificador. Mesmo que víssemos todos os cisnes do mundo, nunca se poderia considerar a proposição confirmada, pois no futuro poderia sempre surgir um cisne de outra cor.

20.4.09

Apontamento sobre Popper e o positivismo - Filosofia - 11º ano

Este apontamento pode ser descarregado nos grupos do Google em:

http://groups.google.com/group/riskici/browse_thread/thread/f3135418434cc228

(O actualizado é o segundo ficheiro chamado positivismo2);

ou copiado aqui neste blog em:

http://riskici.blogspot.com/2007/05/o-positivismo-e-teoria-da.html

13.4.09


APRENDIZAGEM PELA EXPERIÊNCIA (APE)/OUTSCHOOLEducação vivencial e dinâmica de grupos
“Facilitação e processamento das aprendizagens - métodos, técnicas e dinâmicas vivenciais”

Local: Casa Amarela (CACAV) e Cais de Alhos Vedros

Destinatários: Agentes educativos, Animadores Culturais e outros profissionais

Data: Sábado, 18 de Abril 2009, 15 horas.

Recepção dos participantes: 14:45 horas, Casa Amarela.

Duração: 15:00 horas até 19:00 horas.
Mínimo de participantes: 10
Máximo de participantes: 20

Animadores/ Formadores:
Margarida Silva, Sónia Garrucho, Luís Mourinha,
Jorge Pereiros, Victor Matos

Materiais Necessários: Roupa leve, Ténis e Boa Disposição
Inscrição na CACAV: 5 Euros; Sócios: 4 Euros.
E-mail: cooperativa.cacav@gmail.com

Os interessados devem contactar a Cooperativa de Animação Cultural (CACAV).
http://cacav-esteiro-cacav.blogspot.com/

11.4.09

A Família Perfeita

Peço desculpa pelo grande atraso. Aqui abro, finalmente, o espaço para debate sobre o filme Feios, Porcos e Maus. O debate pode abranger qualquer dos temas relativos à desestruturação familiar, os tipos de família, as razões para os comportamentos e as atitudes verificadas no filme, a comparação com outros tipos de família e outros estratos sociais, etc. Como sabem o que quero, fundamentalmente, é que pensem.
Já agora, para melhor informação, vai aqui uma pequena ficha técnica do filme: Brutti, sporchi e cativi; Realização - Ettore Scola; Produção - Carlo Ponti; Personagem principal - Nino Manfredi; 1976.

7.4.09


ENTRECULTURAS EM SANTO ANTÓNIO,
DIAS 29 E 30 DE ABRIL EM SANTO ANTÓNIO
BARREIRO

19.3.09

INTERCÂMBIO DE SANTO ANTÓNIO COM O INSTITUTO MARCO PÓLO DE ROMA,

ENTRE OS DIAS 20 e 28 DE MARÇO 2009

7.3.09

ENTRECULTURAS DIAS 29 E 30 DE ABRIL 2009

A nossa escola é Multicultural e nós queremos mostrar a nossa riqueza: a nossa DIVERSIDADE CULTURAL!

PARTICIPA com ideias e sugestões!

Comunica com os teu Director de Turma!

EXISTE UM PLACARD NA SALA DE PROFESSORES, ONDE SE PODEM REGISTAR AS ACTIVIDADES QUE SE PRETENDEM DESENVOLVER!

A 3ª Edição do ENTRECULTURAS conta com a Vossa Participação.

ESTE ANO VAMOS CONTAR COM A PRESENÇA E PARTICIPAÇÃO DE ALUNOS E PROFESSORES DE UMA ESCOLA ITALIANA!

Caso tenham propostas para o Entreculturas, entrem em contacto com os Vossos Professores e Directores de Turma.

Façam propostas de Actividades, para que esta Mostra de Actividades consiga ser ainda melhor que as anteriores.

4.3.09

ALTERAÇÃO DE DATAS





ENTRECULTURAS, DIAS 29 E 30 DE ABRIL 2009

1.3.09

1ª EDIÇÃO DO ENTRECULTURAS

http://www.entrekulturas.pt/IstoNaoESoMeu.aspx?to=29

1ª EDIÇÃO DO ENTRECULTURAS

http://www.entrekulturas.pt/IstoNaoESoMeu.aspx?to=29

22.2.09

15.2.09







Semana ENTRECULTURAS, dias 22, 23 e 24 de Abril.
ACTIVIDADES MULTICULTURAIS.

A nossa escola é Multicultural e nós queremos mostrar a nossa riqueza: a nossa DIVERSIDADE CULTURAL!

PARTICIPA com ideias e sugestões!

Comunica com os teu Director de Turma!

EXISTE UM PLACARD NA SALA DE PROFESSORES, ONDE SE PODEM REGISTAR AS ACTIVIDADES QUE SE PRETENDEM DESENVOLVER!

A 3ª Edição do ENTRECULTURAS conta com a Vossa Participação.

ESTE ANO VAMOS CONTAR COM A PRESENÇA E PARTICIPAÇÃO DE ALUNOS E PROFESSORES DE UMA ESCOLA ITALIANA!

Caso tenham propostas para o Entreculturas, entrem em contacto com os Vossos Professores e Directores de Turma.

Façam propostas de Actividades, para que esta Mostra de Actividades consiga ser ainda melhor que as anteriores.

12.2.09

ENTRECULTURAS, 3ª EDIÇÃO

Alunos e Professores da EBS Santo António



ACHTUNG:

Semana ENTRECULTURAS, dias 22, 23 e 24 de Abril.

ACTIVIDADES MULTICULTURAIS.

A nossa escola é Multicultural e nós queremos mostrar a nossa riqueza: a nossa DIVERSIDADE CULTURAL!

PARTICIPA com ideias e sugestões!

Comunica com os teu Director de Turma!

EXISTE UM PLACARD NA SALA DE PROFESSORES, ONDE SE PODEM REGISTAR AS ACTIVIDADES QUE SE PRETENDEM DESENVOLVER!

A 3ª Edição do ENTRECULTURAS conta com a Vossa Participação.

ESTE ANO VAMOS CONTAR COM A PRESENÇA E PARTICIPAÇÃO DE ALUNOS E PROFESSORES DE UMA ESCOLA ITALIANA!

Caso tenham propostas para o Entreculturas, entrem em contacto com os Vossos Professores e Directores de Turma.

Façam propostas de Actividades, para que esta Mostra de Actividades consiga ser ainda melhor que as anteriores.

1.2.09

25.1.09

Apontamento de gnosiologia - Filosofia - 11º ano

Resolvi reciclar o velho apontamento, apesar de talvez desenvolver em demasia as teorias estudadas, sendo já estas tratadas no manual. Porém, fá-lo sempre do ponto de vista do contexto histórico-filosófico e, por vezes, do contexto histórico-científico, pelo que deve ser entendido como um complemento ao (e não como substituto do) manual.
Reparei, além disso, que não coloquei, no grupo, a lista das falácias. Apesar de ela ter sido fornecida nas turmas (como todos os apontamentos), dá sempre jeito estar na net. Por isso também aqui vai essa lista.
http://groups.google.com/group/riskici/browse_thread/thread/449e6dce8d70e2e1

20.1.09

A fraude do orçamento de 2009

A acusação foi feita pelo economista Miguel Frasquilho, deputado do PSD, no programa Expresso da meia-noite da SIC Notícias, salvo erro no passado mês de Novembro (ainda não encontrei o papel onde tinha o dia registado), pouco depois da apresentação do Orçamento de Estado para 2009 pelo Ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos. Avisado da gravidade da acusação, replicou que explicaria porquê, sendo, imediatamente, contraditado pela drª. Manuela Arcanjo, antiga Secretária de Estado e Ministra de um governo do Partido Socialista, repetindo várias vezes “não consegue”. Afinal conseguiu e com facilidade – a argumentação foi, resumidamente, a seguinte: aproveitando uma alteração de metodologia, já referida por Teixeira dos Santos, no orçamento, diversos números que até este orçamento eram contabilizados na despesa corrente primária, foram dela retirados. Tudo seria normal e nada falacioso, se isto não fosse aproveitado para alegar a contenção do deficit à custa da despesa que alegadamente teria diminuído. Ora, ela só diminuiu devido à mudança dos critérios da sua contabilização. Assim, num ano em que os salários da Função Pública subirão 2,9%, ou seja, com uma suposta subida real de 0,4%, considera-se que a despesa com o pessoal desce. A despesa corrente primária que era de 39,3% do PIB em 2004 subiria, segundo os antigos critérios, para 40,9%. Mas, com os novos, “desce” para 39,1%. Que a intenção era, claramente, fraudulenta mostrou-o Miguel Frasquilho através de um gráfico do orçamento, onde se comparam os antigos números com os novos, sem fazer qualquer distinção e apresentando a percentagem do actual orçamento como uma descida. Ou seja, apesar de se reconhecer uma alteração metodológica, o que implicaria que os números fossem incomparáveis, eles são depois comparados como se se tratasse da medição de realidades idênticas.
Ora, a esta acusação Manuela Arcanjo responde em seguida: “Li o mesmo documento que o Miguel Frasquilho e não considerei que me tomassem por parva.” Ao que Frasquilho questiona: “Então acha bem isto que aqui está?”, sendo este “aqui” o gráfico já referido e que, por cima da mesa, ele lhe mostrava. Resposta de Arcanjo: “Ouça, eu não vou comentar gráficos. O convite não abrangia comentar gráficos.”
Mais adiante, insistindo Frasquilho em que as alterações das classificações não estavam explicadas, nem comparadas, perante uma certa compreensão para com as alterações da parte de Ricardo Costa (com um argumento do tipo “em todo o lado isso acontece” que já identifiquei em artigo anterior), Frasquilho retorque: “Mas, então, explica-se e pode-se tomar as contas numa base comparável.” Ao que Ricardo Costa objecta: “Mas isso não é necessariamente uma fraude.” Ora, em vez de discutir o estranho conceito de fraude de Ricardo Costa, onde, sem explicar as diversas condições, apresentar uma subida como uma descida não é visto como fraude, Frasquilho responde com a sua entrada da noite (para o nosso propósito): “Aliás, o dr. Medina Carreira fez exactamente essa análise há pouco na televisão também.” Comentário de Manuela Arcanjo: “O dr. Medina Carreira é um purista.”
Já fora do contexto das sucessivas falácias que tereis que descobrir, a questão foi encerrada com Miguel Frasquilho a explicar o que foi retirado das contas, exigindo que o mesmo fosse retirado das contas dos anos anteriores para permitir a comparação (honesta, acrescento eu).

18.1.09

ESCOLA ABERTA CACAV

A “ESCOLA ABERTA” como o próprio nome deixa desde logo antever, está aberta à participação e às ideias de todos quantos se queiram juntar nesta aventura.
Não será uma escola igual às outras, onde uns aprendem o que os “mestres” têm para lhes ensinar, seguindo um caminho previamente traçado e que vai dar onde “outros” pensam que será melhor para nós.
Não será uma escola com paredes opacas que a isolam do mundo e impedem a entrada à luz dos sorrisos, do espanto e ao murmurar das águas da inquietação.
Será uma escola de perguntas, de abraços fraternos e de utopias – e das outras coisas todas, que fazem o caldeirão onde fervilha a poesia e o sentido da vida.
A “Escola Aberta” será o que nós sonharmos e funcionará como nós quisermos!
Nesta Escola poderão acontecer Ciclos de Estudos (de curta duração), Cursos Livres (de duração mais prolongada), Seminários e Workshops ou uma Escola de Adultos.

Princípios Estruturais

1.Liberdade
2.Participação Activa
3.Desenvolvimento pessoal e Social
4.Universalidade
5.Identidade

Vem. Podes trazer um amigo também!
Traz uma pergunta ou um sonho contigo,
Um navio ou um porto de abrigo,
Com sextante ou à deriva. Mas vem.