16.11.09

Falácias das “juventudes”


Não sendo meu hábito indicar casos de falácias sem identificação dos intervenientes, vou aqui abrir uma excepção só para mostrar que não é preciso ir buscar os grandes debates políticos para nos confrontarmos com o discurso político falacioso. Estava eu a percorrer os canais televisivos, quando passo pelo final de um debate (eram 13.50 h.) entre juventudes partidárias num programa da TVI24 intitulado “Rédea Solta”, exibido (não sei se pela primeira vez) no dia 16 de Novembro. Não foi preciso mais de meio minuto para choverem falácias tão banais quanto recorrentes no discurso político. Devo dizer que nunca ouvi mais de alguns segundos deste programa porque o nível da argumentação (e trata-se de um programa argumentativo) é notoriamente tão baixo que não consigo suportá-lo mais tempo. Porém, para enunciar falácias, não é necessário um grande nível argumentativo – arriscaria mesmo a dizer que quanto mais baixo o nível argumentativo, tanto mais falacioso o discurso tende a ser. É claro que é possível encontrar falácias bastante elaboradas, mas a maioria do discurso falacioso é elementar e grosseiro (mas nem por isso menos eficaz junto da população). Pelo contrário, o discurso argumentativo honesto necessita de maior elaboração, esmero e subtileza.
Logo assim que liguei o canal, um jovem do Bloco de Esquerda afirmava que todos os estudos provavam que o aumento das desigualdades (juntamente com a mentalidade consumista) estava associado ao aumento da criminalidade, ao que um representante da Juventude Social-Democrata respondeu num aparte rápido: “Então, quem é pobre, é ladrão.” Para ajudar um pouco na análise, reduzindo a questão ao roubo, da declaração do jovem do BE poder-se-ia extrair que o aumento dos ladrões se devia ao aumento das necessidades económicas e sociais, mas poder-se-ia extrair a afirmação do jovem da JSD? Acresce-se que também as declarações do jovem do BE estão londe de não revelar mácula...

Como, neste caso, não tenho a identificação dos intervenientes, caso alguém queira tratar este caso, consideraria como muito valorizador do trabalho conseguirem junto da TVI a identificação dos envolvidos. Mas, caso não seja possível ou dê muito trabalho, sugiro que dêem maior atenção a este programa – pelo que pude ver, o programa deve ser uma verdadeira mina de falácias. Como os jovens não conseguem fazer grandes argumentações, centram-se nas declarações mais imediatas que podem extrair dos lugares comuns dos seus camaradas mais velhos que são, quase invariavelmente, falaciosos. Desconfio que é capaz de ser quase um curso intensivo das falácias políticas mais recorrentes no nosso discurso político, reduzidas ao seu esqueleto mais patentemente falacioso. Por isso, bom trabalho.

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