5.6.09

MEP - O centro da nossa democracia

Como estou impedido de responder no seu blog, respondo aqui. Para lá da espantosa democraticidade revelada por este partido que, por falta de argumentos, barra os comentários (que, como podem ver na entrada anterior, nada tinham que não fosse do foro próprio da discussão política), já aprendeu a responder absurdamente às contraposições, com as falácias habituais, nomeadamente negando os argumentos com aquilo mesmo que era o teor do que era atacado por esses argumentos. Veja-se esta pérola:
António Muñoz - lAURINDA ALVES voto em si em plena confiança porque conheço a sua obra em prol da educação e da cultura,que só um cego pode cunfundir com o "centrão"...Não ligue a baboseiras e FORÇA COM O MEP !
Ao que parece só a quem critica o movimento é que é requerido ler o programa. Um apoiante não o tem que ler e até o pode negar. A única posição ideológica do MEP é a de pertencer ao centro. Nem se sabe ao certo de que é que é centro esse centro. Estaline era centrista e, se formos a ver bem, Salazar também (vão estudar um pouco que só vos faz bem - obviamente que nem Estaline, nem Salazar, eram centristas para os sistemas liberais). Aliás, qualquer poder dominante tende a constituir-se como centro, deixando, para as margens esquerda e direita, os excluídos que tentam alterar o centro do poder. Mas presumo que isto seja complicado demais para a posição singela deste apoiante.
Porém, há aspectos bem mais extraordinários em tão curta contribuição. Segundo António Muñoz, quem pertence ao "centrão" não pode ter qualquer obra válida em prol da educação e da cultura. Eis algo duplamente espantoso. Primeiro, porque considera toda a gente desse vasto "centrão" como boçal, coisa que eu que não morro de amores pelo "centrão", nunca me lembraria de considerar. Segundo, porque, estranhamente, a linguagem do programa do MEP em relação à educação (e, porventura, à cultura) é tal e qual decalcada da linguagem do tal "centrão" - aliás, não é de estranhar que um dos maiores representantes da política educativa centrista, Roberto Carneiro, seja um dos apoiantes do movimento.
Outro aspecto interessante é o facto de se considerar que Laurinda Alves fez um grande trabalho no domínio da educação. Talvez seja o sinal dos tempos, considerar que uma jornalista é uma incontornável referência da educação, ao passo que um professor é desprezível nesse domínio. É compreensível. Afinal, os jornalistas têm sido a principal força educativa (ou deseducativa, conforme a perspectiva) dos portugueses nestas últimas décadas. Além disso, todos sabem que único trabalho que existe e tem valor é o que aparece na televisão. Daí que baste ter falado sobre educação na televisão para se ser um especialista de educação. De facto, pensando bem, até o Miguel Sousa Tavares é um desses especialistas - para lá do facto de provir de boa família no domínio cultural, o que ainda mais reforça a sua autoridade.
Mas a verdadeira epifania do comentário que estou a comentar é a que ocorre em todos os comentários dos apoiantes de líderes políticos e congéneres. A pura confiança na candidata! Isto para rejeitar uma questão crítica quanto à possibilidade de o movimento estar a pedir um cheque em branco para a sua eleição ou um puro acto de fé na personalidade dos seus candidatos! Fez-me lembrar os actos de violência cometidos por radicais islâmicos pelo facto de o papa ter insinuado que o Islão era violento. Infelizmente, já não me surpreende esta constante absurdidade e estultícia que se revela sempre que está em causa a defesa de um colectivo.
Costumo dizer que gosto muito de pessoas, mas detesto gente. Estas pessoas serão, com certeza, normalmente, inteligentes e abertas à discussão. Mas, agora, estão na fase de ser "gente", de defender o colectivo a que pertencem... Bem tentam dizer que são um movimento e não um partido... Mas o que há de mais negativo num partido é ser composto de gente e não de pessoas, de transformar as mais inteligentes pessoas em tristes transmissores de falácias, absurdidades e contra-sensos. É por isso que é sempre mais interessante ouvir um político que já saiu do activo - é que ele já pode, de novo, ser pessoa. Ao agir desta forma, até podem ser diferentes de um partido, mas naquilo que constitui a característica mais negativa dos partidos, são exactamente iguais.

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