A entrevista do Primeiro
Na recente entrevista à SIC do primeiro-ministro José Sócrates, no dia 5 de Janeiro, não tive a oportunidade de uma análise aturada mas pude identificar e registar, rapidamente, duas passagens que podem servir para mais uma proposta de trabalho. Devo dizer, porém, que o jornalista Ricardo Costa, para lá das falhas deontológicas no seu trabalho jornalístico que chegaram a levar José Sócrates, com toda a razão, a perguntar se estava a fazer perguntas ou estava a fazer um editorial, recorreu com frequência a falácias grosseiras infelizmente típicas da argumentação jornalística, identificáveis por expressões como “toda a gente sabe” e “sabe isso tão bem como eu”, além de outros recursos autoritários duvidosos. Pena é que não se assuma como político, caso em que teria lugar no nosso trabalho. Porém, se alguém quiser pegar pelos políticos dissimulados de outra coisa, não serei eu que me oporei...
Pelo contrário, o verdadeiro jornalista José Gomes Ferreira (e, como tal, com bem menor sucesso) causou bem maior incómodo ao primeiro-ministro porque punha, de facto, questões e não opinava à toa em tom de zaragata, o que bem temos visto ser, no Parlamento, completamente ineficaz e o terreno preferido de José Sócrates. Não é por acaso que os dois exemplos que aqui trago nasceram de perguntas de José Gomes Ferreira. No primeiro caso, estava em causa se o governo teria preparado o país para a actual situação de crise económica, ilustrando a pergunta com os dados do INE que mostravam que nos anos de 2006, 2007 e 2008, o investimento estrangeiro teria caído sempre relativamente ao ano anterior. Procurando desmentir, de forma vaga, estes dados, José Sócrates referiu um conjunto de investimentos estrangeiros feito por aquilo a que chamou empresas emblemáticas (Repsol, Advance, Pescanova, Ikea). O jornalista chamou, imediatamente, a atenção para o facto que exemplos casuísticos não poderem desmentir dados macro-económicos, mas isso não demoveu o primeiro-ministro. A esse propósito um dos comentadores do painel que se seguiu à entrevista (cujo nome não fixei) dizia a este propósito, com alguma graça e não menor verdade, que José Sócrates respondia sempre com números aos exemplos e com exemplos aos números.
O outro caso é, porém, muito mais grosseiro e, como tal, muito mais facilmente analisável. A propósito do aumento dos custos resultantes da renegociação das concessões para a construção de estradas e de auto-estradas, sugeria José Gomes Ferreira: “Já houve quem sugerisse que se alterasse tudo e o Estado emitisse dívida pública e fizesse as obras directamente, porque isto vai sair mais caro.” Ao que José Sócrates respondeu imediatamente: “Eu não estou de acordo com esse ponto de vista que é o ponto de vista daqueles que acham que não há dinheiro para nada, que o Estado não devia fazer nada. Eu acho que o Estado deve fazer investimento. E qual é o critério para fazer investimentos? É o critério de se o investimento é bom ou é mau.” Infelizmente, Ricardo Costa agarrou-se, imediatamente, a esta última frase, para levantar as objecções de Manuela Ferreira Leite (ou similares às dela) que, tanto quanto é possível perceber pela insistência do primeiro-ministro, ao longo de todo o debate, nestas mesmas ideias, era exactamente o que ele queria. Perdeu-se, assim, a oportunidade de José Gomes Ferreira denunciar a resposta contra-sensual de Sócrates, tal como havia feito no exemplo anterior.
Pelo contrário, o verdadeiro jornalista José Gomes Ferreira (e, como tal, com bem menor sucesso) causou bem maior incómodo ao primeiro-ministro porque punha, de facto, questões e não opinava à toa em tom de zaragata, o que bem temos visto ser, no Parlamento, completamente ineficaz e o terreno preferido de José Sócrates. Não é por acaso que os dois exemplos que aqui trago nasceram de perguntas de José Gomes Ferreira. No primeiro caso, estava em causa se o governo teria preparado o país para a actual situação de crise económica, ilustrando a pergunta com os dados do INE que mostravam que nos anos de 2006, 2007 e 2008, o investimento estrangeiro teria caído sempre relativamente ao ano anterior. Procurando desmentir, de forma vaga, estes dados, José Sócrates referiu um conjunto de investimentos estrangeiros feito por aquilo a que chamou empresas emblemáticas (Repsol, Advance, Pescanova, Ikea). O jornalista chamou, imediatamente, a atenção para o facto que exemplos casuísticos não poderem desmentir dados macro-económicos, mas isso não demoveu o primeiro-ministro. A esse propósito um dos comentadores do painel que se seguiu à entrevista (cujo nome não fixei) dizia a este propósito, com alguma graça e não menor verdade, que José Sócrates respondia sempre com números aos exemplos e com exemplos aos números.
O outro caso é, porém, muito mais grosseiro e, como tal, muito mais facilmente analisável. A propósito do aumento dos custos resultantes da renegociação das concessões para a construção de estradas e de auto-estradas, sugeria José Gomes Ferreira: “Já houve quem sugerisse que se alterasse tudo e o Estado emitisse dívida pública e fizesse as obras directamente, porque isto vai sair mais caro.” Ao que José Sócrates respondeu imediatamente: “Eu não estou de acordo com esse ponto de vista que é o ponto de vista daqueles que acham que não há dinheiro para nada, que o Estado não devia fazer nada. Eu acho que o Estado deve fazer investimento. E qual é o critério para fazer investimentos? É o critério de se o investimento é bom ou é mau.” Infelizmente, Ricardo Costa agarrou-se, imediatamente, a esta última frase, para levantar as objecções de Manuela Ferreira Leite (ou similares às dela) que, tanto quanto é possível perceber pela insistência do primeiro-ministro, ao longo de todo o debate, nestas mesmas ideias, era exactamente o que ele queria. Perdeu-se, assim, a oportunidade de José Gomes Ferreira denunciar a resposta contra-sensual de Sócrates, tal como havia feito no exemplo anterior.
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