Falácias "educativas" II
Como prova de que a formação em Filosofia não torna os políticos imunes à argumentação falaciosa, talvez até antes pelo contrário, e que até mesmo políticos retirados gostam de matar saudades do tempo em que tinham que fazer acrobacias intelectuais mirabolantes para conseguirem defender as posições mais insustentáveis dos “seus” governos, verdadeiros Protágoras modernos na habilidade de tornar o argumento fraco em forte, seguem-se algumas declarações de José Pacheco Pereira no programa Quadratura do Círculo de 20 de Novembro, na sequência das alterações anunciadas pela Ministra da Educação ao processo de avaliação de desempenho dos docentes, Ministra pela qual o político metamorfoseado comentador, por diversas vezes, confessou a sua estima. Dizia, então, José Pacheco Pereira, pelas 23.22:
“A mim, preocupa-me, mais do que a substância deste processo, se a ministra da Educação cai (...) porque o Primeiro-Ministro a põe na rua ou porque ela tem que se demitir ou porque se chega a um impasse, em grande parte pela contestação dos sindicatos e dos professores, ninguém mexe em coisa nenhuma da Educação nos próximos 25 anos.” Logo a seguir, em resposta ao jornalista, insiste que mesmo suspender provisoriamente ou recuar apenas, em alguns aspectos, seria o mesmo que cair. Pelas 23.24, percebe-se que não seria só a Educação que ficaria paralisada: “Preocupa-me que haja um tónus reformista no governo e na sociedade portuguesa e eu sei que esse tónus reformista, independentemente das coisas estarem a ser bem ou mal feitas – porque acho que estão a ser muito mal feitas – (...) esse tónus reformista recua objectivamente, se a Ministra da Educação cair face à rua.”
Tendo em conta que não me lembro de alguma altura em que, na Educação, não se estivessem a passar várias reformas, ou curriculares, ou das modalidades de ensino, ou dos estatutos docentes, discentes ou dos outros funcionários, ou nos programas, ou na definição da rede escolar, ou na gestão, ou no agrupamento dos ciclos nas escolas, ou na avaliação docente ou discente, ou no ensino nocturno, ou nos concursos, ou no parque escolar, ou na implementação de novas pedagogias, etc., muitas vezes começando uma, no mesmo âmbito, ainda antes de ter acabado a experimentação da anterior, a mera expectativa de 25 anos de estabilidade, seja com que modelos for, não deixa de ter um carácter sedutor que só alguém que não trabalha neste parque de diversões dos políticos, dos "cientistas" educativos e dos funcionários ministeriais, que é o sistema educativo, não percebe. Mas, infelizmente, tal idílio só pode existir na cabeça de José Pacheco Pereira e aí, pelos vistos, entendido como se fosse um pesadelo. Além disso, o pesadelo, neste caso, tem a espantosa capacidade de se alargar a todos os sectores, coisa que nem a queda de Leonor Beleza, citada por Pacheco Pereira, teve o poder de conseguir. Aliás, o pesadelo já se tornou realidade porque, segundo Pacheco Pereira, após a conferência de imprensa da Ministra, esta, de facto, já caiu.
Já agora, convém entender o que Pacheco Pereira pensa (agora) sobre este processo de avaliação. Pelas 23.25, ele esclarece-nos: “Eu sou o primeiro a dizer que este sistema de avaliação tem todos os defeitos do mundo, ele é o resultado de uma atitude defensiva dos professores que quiseram acrescentar alínea sobre alínea sobre alínea sobre alínea para se defenderem do processo de avaliação e de um ministério que não percebe que fala com burocracia contra burocracia, e o resultado é um monstro que, evidentemente, gerou este movimento.” O monstro é adiante explicado por ser “profundamente burocrático”. Deixando passar o facto de toda a luta sindical do ano lectivo passado se ter centrado em tirar alíneas (como a da avaliação dos docentes pelos pais) e não em pô-las, Pacheco Pereira acaba por conseguir culpabilizar os professores pelo modelo contra o qual lutam, atribuindo apenas ao Ministério uma inocente ingenuidade, surgindo aqui os professores como modelos, por excelência, de burocratas. Os serviços administrativos tornam-se, assim, vítimas inocentes do espírito burocrático... dos amanuenses, dos conservadores, dos contabilistas, dos gestores, dos escriturários, dos inspectores, dos fiscais, de sabe-se lá que repartição onde se percam os K. deste mundo? Não, dos professores, os mais nefastos burocratas da sociedade. De facto, já me tinha sentido várias vezes num ambiente kafkiano...
Pelas 23.29, António Lobo Xavier sintetizou brilhantemente a argumentação de José Pacheco Pereira desta forma: “Ele disse: criou-se um monstro; mas, no fundo, depois disse: não se pode desistir do monstro porque isso é trágico, porque depois há 25 anos sem nada e é melhor termos um monstro do que nada nos próximos 25 anos.” Ou seja, visto, segundo Pacheco Pereira, o monstro ter sido criado pelos professores, registe-se que Pacheco Pereira é afinal favorável a algo criado pelos professores dos Ensinos Básico e Secundário. No entanto, é útil dizer que a descrição desfavorável deste modelo de avaliação por parte de Pacheco Pereira, só surgiu agora, quando descobriu a culpa dos professores na sua criação. De forma que não sei, ao certo, se os professores lhe deverão agradecer o apoio...
“A mim, preocupa-me, mais do que a substância deste processo, se a ministra da Educação cai (...) porque o Primeiro-Ministro a põe na rua ou porque ela tem que se demitir ou porque se chega a um impasse, em grande parte pela contestação dos sindicatos e dos professores, ninguém mexe em coisa nenhuma da Educação nos próximos 25 anos.” Logo a seguir, em resposta ao jornalista, insiste que mesmo suspender provisoriamente ou recuar apenas, em alguns aspectos, seria o mesmo que cair. Pelas 23.24, percebe-se que não seria só a Educação que ficaria paralisada: “Preocupa-me que haja um tónus reformista no governo e na sociedade portuguesa e eu sei que esse tónus reformista, independentemente das coisas estarem a ser bem ou mal feitas – porque acho que estão a ser muito mal feitas – (...) esse tónus reformista recua objectivamente, se a Ministra da Educação cair face à rua.”
Tendo em conta que não me lembro de alguma altura em que, na Educação, não se estivessem a passar várias reformas, ou curriculares, ou das modalidades de ensino, ou dos estatutos docentes, discentes ou dos outros funcionários, ou nos programas, ou na definição da rede escolar, ou na gestão, ou no agrupamento dos ciclos nas escolas, ou na avaliação docente ou discente, ou no ensino nocturno, ou nos concursos, ou no parque escolar, ou na implementação de novas pedagogias, etc., muitas vezes começando uma, no mesmo âmbito, ainda antes de ter acabado a experimentação da anterior, a mera expectativa de 25 anos de estabilidade, seja com que modelos for, não deixa de ter um carácter sedutor que só alguém que não trabalha neste parque de diversões dos políticos, dos "cientistas" educativos e dos funcionários ministeriais, que é o sistema educativo, não percebe. Mas, infelizmente, tal idílio só pode existir na cabeça de José Pacheco Pereira e aí, pelos vistos, entendido como se fosse um pesadelo. Além disso, o pesadelo, neste caso, tem a espantosa capacidade de se alargar a todos os sectores, coisa que nem a queda de Leonor Beleza, citada por Pacheco Pereira, teve o poder de conseguir. Aliás, o pesadelo já se tornou realidade porque, segundo Pacheco Pereira, após a conferência de imprensa da Ministra, esta, de facto, já caiu.
Já agora, convém entender o que Pacheco Pereira pensa (agora) sobre este processo de avaliação. Pelas 23.25, ele esclarece-nos: “Eu sou o primeiro a dizer que este sistema de avaliação tem todos os defeitos do mundo, ele é o resultado de uma atitude defensiva dos professores que quiseram acrescentar alínea sobre alínea sobre alínea sobre alínea para se defenderem do processo de avaliação e de um ministério que não percebe que fala com burocracia contra burocracia, e o resultado é um monstro que, evidentemente, gerou este movimento.” O monstro é adiante explicado por ser “profundamente burocrático”. Deixando passar o facto de toda a luta sindical do ano lectivo passado se ter centrado em tirar alíneas (como a da avaliação dos docentes pelos pais) e não em pô-las, Pacheco Pereira acaba por conseguir culpabilizar os professores pelo modelo contra o qual lutam, atribuindo apenas ao Ministério uma inocente ingenuidade, surgindo aqui os professores como modelos, por excelência, de burocratas. Os serviços administrativos tornam-se, assim, vítimas inocentes do espírito burocrático... dos amanuenses, dos conservadores, dos contabilistas, dos gestores, dos escriturários, dos inspectores, dos fiscais, de sabe-se lá que repartição onde se percam os K. deste mundo? Não, dos professores, os mais nefastos burocratas da sociedade. De facto, já me tinha sentido várias vezes num ambiente kafkiano...
Pelas 23.29, António Lobo Xavier sintetizou brilhantemente a argumentação de José Pacheco Pereira desta forma: “Ele disse: criou-se um monstro; mas, no fundo, depois disse: não se pode desistir do monstro porque isso é trágico, porque depois há 25 anos sem nada e é melhor termos um monstro do que nada nos próximos 25 anos.” Ou seja, visto, segundo Pacheco Pereira, o monstro ter sido criado pelos professores, registe-se que Pacheco Pereira é afinal favorável a algo criado pelos professores dos Ensinos Básico e Secundário. No entanto, é útil dizer que a descrição desfavorável deste modelo de avaliação por parte de Pacheco Pereira, só surgiu agora, quando descobriu a culpa dos professores na sua criação. De forma que não sei, ao certo, se os professores lhe deverão agradecer o apoio...
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