31.10.07

Área de Integração - Complemento à unidade relativa à ética

Juízos de facto e juízos de valor

Esta distinção surgiu no início do séc. XX, no âmbito da sociologia positivista, para afastar da ciência toda a consideração dos juízos de valor. A distinção continuou, no entanto, a ser usada muito depois das pretensões positivistas se terem tornado obsoletas e independentemente das mesmas.
Um juízo de facto é um juízo que caracteriza ou descreve um objecto ou que relata uma ocorrência. É um juízo objectivo, no sentido de pretender transmitir o que é o objecto em causa. É um juízo verificável, visto ser, em princípio, possível compará-lo com a realidade, verificando se é verdadeiro ou falso.
“Esta mesa é verde” – é um juízo de facto mesmo que a mesa seja amarela, visto estar apenas a caracterizar a mesa, sendo susceptível de ser verificado pela experiência. “Nesta jogada, houve um fora de jogo não assinalado” – é um juízo de facto porque relata uma ocorrência. Repare-se que, neste último caso, embora seja verificável, isso não acaba necessariamente com as discussões interpretativas porque basta uma diferente disposição das câmaras de filmar para já se considerar de uma forma diferente o lance. Não se confunda, pois, verificável com certo, embora exista aqui, certamente, um maior grau de certeza possível que nos juízos de valor.
Um juízo de valor é um juízo apreciativo que diz mais acerca de como o sujeito é afectado pelo objecto, do que sobre o próprio objecto. Daí que seja considerado um juízo subjectivo, opinativo, de natureza afectiva e emocional, sem possibilidade de qualquer verificação.
“A Anabela é bela” – é um juízo de valor visto a beleza não ser nenhuma característica do objecto, nem adiantar nada para o conhecimento do objecto. O juízo expressa o gosto de quem profere o juízo, a forma como ele é afectado pelo objecto, e não o próprio objecto. Um outro pode considerar a Anabela feia e não há forma de verificar qual tem razão, pois a beleza ou a fealdade não são características do objecto como seriam “loura”, “alta”, “gorda” ou “rapariga”. Repare-se, porém, que um juízo de valor não tem que enunciar um valor de forma explícita: “o Jaime é pior que cuspir na sopa” – é também um juízo de valor pois, igualmente, não nos está a transmitir qualquer característica do Jaime, muito embora não nomeie nenhum valor. Veja-se, no entanto, que o sujeito que profere o juízo deverá ter um valor em mente, como, por exemplo, a maldade, que está na base da apreciação que faz. Sempre que um juízo seja apreciativo ou depreciativo, utilize os termos que utilizar, mesmo que não expressem directamente valores, é um juízo de valor.

Os valores

Os valores que nos importam na medida em que são susceptíveis de orientar a conduta humana, são aqueles que possuem um significado ideal. Os valores matemáticos, financeiros, comerciais, ou ainda as coisas a que atribuímos valor afectivo, nada têm a ver com o sentido da palavra “valor” que aqui nos interessa. Os valores são ideais no sentido em que expressam aquilo que se julga que “deveria ser” ou que se “deveria fazer” ou que se ”deveria atingir”, embora como um horizonte abstracto que nunca se pode considerar plenamente realizado. Não se deve confundir ideais com metas concretas. A riqueza é um ideal, possuir a Microsoft é uma meta concreta que até pode contribuir para realizar o ideal, mas que não o esgota. Quem se orienta pelo valor da riqueza pode querer sempre mais como o Tio Patinhas.
Outra característica dos valores é a sua polaridade. Os valores podem ser positivos ou negativos, podendo-se sempre que um valor é apresentado, ver qual é o seu polo oposto. Porém, nem sempre os valores que são considerados positivos por uma cultura ou uma pessoa, são positivos para outra. Por exemplo, a cultura aristocrática romana nunca consideraria a humildade um valor positivo, ao passo que a cultura cristã não só considera a humildade positiva, mas também como um dos seus valores mais altos. Um valor negativo não deixa de ser um ideal, visto ser também um horizonte abstracto que orienta a acção. A nossa acção não é só orientada por aquilo que procuramos alcançar, mas também por aquilo de que nos procuramos afastar, aquilo que nos repugna, de que temos medo ou que desaprovamos.
Os valores ordenam-se, sempre, seja numa doutrina, seja numa sociedade, seja num grupo social, seja num indivíduo, segundo uma hierarquia. Nem sempre essa hierarquia é clara para quem a segue. Muitas vezes aquela que até é declarada, não é a que verdadeiramente é seguida. Uma pessoa pode julgar que o seu valor máximo é a amizade, mas se o amigo põe em causa a sobrevivência, a integridade física ou até a simples prosperidade económica, por exemplo, da família, ou se tem relações sexuais com o namorado(a) ou o cônjuge, imediatamente tal pessoa se esquece da amizade, trocando-a pelo valor da segurança, do bem-estar ou da fidelidade. Mesmo que uma pessoa ou um grupo não tenha um conhecimento correcto da sua hierarquia, ela está lá e revela-se nas situações de conflitos de valores. É, aliás, por causa desses conflitos que tem que existir uma hierarquia. Nos dilemas mais difíceis que a vida nos coloca, temos que decidir entre agir desta ou daquela maneira, o que, em geral, significa, dar mais importância a um valor do que a outro. Os dilemas de Kohlberg que se destinavam a aferir o estádio de desenvolvimento moral do indivíduo, podem ser utilizados também para um melhor conhecimento de si próprio, nomeadamente no que se refere à sua hierarquia de valores, até para se estar melhor preparado para saber o que fazer quando a vida colocar os verdadeiros dilemas. Porém, essa hierarquia, sobretudo nos indivíduos, não é fixa, podendo mudar ao longo do tempo.
Há que salientar, no entanto, que os valores não se aplicam ao comportamento directamente. Eles estão, não obstante, na base das normas que regulam directamente o comportamento. As normas são as regras que qualquer doutrina, sociedade, grupo ou indivíduo, estipula especificamente em relação ao comportamento que deve ser seguido. Muitas vezes os conflitos acima referidos, expressam-se mais directamente como conflitos de normas.
(A discussão quanto à natureza relativa ou absoluta dos valores já foi antes feita a propósito do etnocentrismo e do relativismo..)

Exemplos de valores: ético-políticos – bem, solidariedade, liberdade, justiça, coragem, fidelidade, pudor, imparcialidade, generosidade, moderação, virtude, seriedade, heroísmo, castidade, nobreza, humildade, etc.; estéticos – beleza, sublimidade, elegância, harmonia, singeleza, criatividade, graciosidade, etc.; religiosos – sagrado, divino, inefável, piedade, santidade, misericórdia, martírio, etc.; cognitivos: certeza, verdade, provável, objectividade, etc.: sensíveis: prazer, saúde, riqueza, bem-estar, agrado, vigor, etc.; existenciais: serenidade, felicidade, realização, sabedoria, etc.; outros de difícil classificação – feminilidade, masculinidade, puerilidade, ingenuidade, pureza, força, perfeição, etc.; assim como todos os contrários destes valores.

25.10.07

Proposta de correcção da Actividade 1

1º texto – Conquista e destruição da cultura dos conquistados – Aculturação dos índios pelos norte-americanos: A declaração do senador no texto é já o resultado de uma política norte-americana que se iniciou pela conquista, muitas vezes traindo acordos e tratados, que passou por práticas de expropriação quando recursos valiosos estavam em causa, por deportações muitas vezes para terras miseráveis e inadequadas à economia índia tradicional, por segregação, por bloqueamento económico, por parcelamento com vista à compra das terras aproveitando as situações de miséria, por estimulação do alcoolismo, acabando, em alguns casos, por cometer massacres brutais. Dentro desta mentalidade que considerava a cultura índia selvagem e que só admitia a sobrevivência dos índios se deixassem de ser índios (muito embora, quando lhes convinha, os tratassem como estrangeiros sem direitos de cidadania), acabou, por mais tarde, se generalizar a prática de retirar as crianças das suas comunidades para as “civilizar” em instituições de regime de internato. O objectivo consciente era a desculturação total das culturas índias, sendo a única alternativa o extermínio.
2º texto – Domínio “cultural” (religioso e tecnológico) – Aculturação dos nativos da Nova Guiné e Melanésia pela Civilização Ocidental: Boa parte dos povos do interior da Nova Guiné (papuas) vivia, até há pouco, numa situação semelhante à Idade da Pedra. A intervenção da civilização ocidental na região através do colonialismo, provocou profundas alterações que nem sempre puderam corresponder à compreensão da nossa cultura. Para os papuas, por exemplo, as incríveis máquinas produzidas pela indústria ocidental deverão ter criado uma estupefacção que abriria a possibilidade ao desenvolvimento de outras influências ocidentais. É óbvio que terão associado essas máquinas mágicas à mensagem dos missionários que atacavam os cultos tradicionais, abandonando esses cultos, mas não entendendo claramente os novos e juntando-lhe características da sua própria estrutura perceptiva e do seu próprio imaginário. Assim, nasceu uma cultura nova, fruto da influência religiosa cristã, da influência tecnológica ocidental e da estrutura perceptiva provinda da cultura nativa.
3º texto – Domínio comercial – Aculturação dos portugueses (entre outros) pela cultura anglo-saxónica e, em especial, norte-americana: O domínio comercial da língua inglesa provém já do domínio britânico dos tempos do império colonial, continuado pelo domínio da super-potência norte-americana. Por outro lado, sucessivas indústrias de sucesso no domínio da comunicação (cinema, televisão, música, jogos de computador, informática em geral, etc.) amplificaram cada vez mais esse domínio, ao ponto dessa língua passar a ser usada mesmo nos produtos criados em países cuja língua não é anglo-saxónica. Porém, a influência não fica pelo domínio da língua. Os produtos que usam a língua inglesa são consumidos e imitados na sua própria estrutura e padrões culturais (valores, crenças, costumes, etc.), transferindo para outras culturas os padrões culturais norte-americanos (ou melhor, aqueles que são expressos pelo cinema, música e jogos comerciais). Assim, não se trata apenas do uso de palavras inglesas no meio de um discurso noutra língua; através desse uso, são também padrões de cultura que estão a ser transferidos, condicionando as pessoas a pensarem cada vez mais segundo esses padrões e consumido cada vez mais produtos dessa cultura, em áreas cada vez mais diversificadas, nomeadamente as áreas académicas, tendendo a impor uma cultura mundial única.
4 º texto – Conquista e destruição da cultura dos invasores – Aculturação dos bárbaros pela cultura latina: Apesar das conquistas bárbaras (germânicas) terem destruído boa parte da herança cultural greco-romana, isso não significa que a Europa Ocidental se tenha tornado germânica. De facto, a muito breve trecho os povos germânicos começaram a adoptar o que restava da antiga cultura romana, deixando-se influenciar por ela a todos os níveis, politico, artístico, jurídico, religioso, linguístico, etc. Embora isso não significasse a restauração total da cultura romana, significou uma desculturação gradual dos germânicos que, em certos casos, chegou a ser total. Só nas ilha britânica é que a língua germânica persistiu, mas, mesmo aí, com profundas modificações e influências latinas, para lá da influência romana em muitas outras áreas culturais. Tratou-se, pois, de uma caso em que os invasores reconheceram, implicitamente, o maior desenvolvimento da cultura romana, quanto mais não seja para lidar com populações mais vastas e com reinos mais complexos, tendo sido conquistados culturalmente pelos invadidos.
5º texto – Imigração – Aculturação dos norte-americanos pelos italianos: Toda a imigração influenciou, enormemente, a formação desse cadinho de culturas em que se transformou os Estados Unidos. Entre essa imigração, a “importação” da Máfia foi dos fenómenos mais relevantes na formação da actual “América”. A Máfia acabou por dominar vastos sectores da economia norte-americana, chegando a dominar cidades inteiras e influenciar muito significativamente a política norte-americana. Fê-lo, porém, mantendo a sua estrutura original, os seus valores, os seus costumes e as suas crenças. Assim, quer se goste ou não do facto, muito contribuiu para a afirmação da comunidade ítalo-americana nos USA, fazendo com que os seus padrões de cultura influenciassem inúmeros hábitos, práticas e até obras nos mais variados sectores. Houve, assim, significativa troca cultural em que, durante bastante tempo, foi mais a cultura americana que foi influenciada do que a cultura imigrante (embora esta também acabasse por ceder frente à cultura dominante).

24.10.07

Moodle: Plataforma de Investigação

O Grupo de Investigação CODEC, dipõe agora de uma Plataforma Digital, a partir da qual pode publicar e divulgar os trabalhos realizados e os Planos de Investigação.
Num mesmo espaço é possível trabalhar com três "Disciplinas" autónomas, nas quais três Grupos de Investigação apresentam e partilham tarefas e ideias.
Ficam convidados a visitar o Moodle de Santo António, através dos acessos:
Moodle
Área Projecto 12º

21.10.07

Crash

Porque estamos em colisão entre nós? Porque é que a sociedade norte-americana chegou a tais extremos de incompreensão? Porque é que há quem tente dar uma imagem de não pertencer ao seu grupo étnico? E que diferença será a mais significativa - a de grupo étnico ou a de classe social? Ou o cruzamento das duas classificações dá origem a novos grupos? Porque não tratamos os outros simplesmente como pessoas? E se podemos ser pessoas, porque não o somos sempre, se, quando o somos, a vida faz tanto mais sentido?
Estas são apenas algumas das questões que o filme exibido pode levar a colocar. Não fiquem, porém, limitados por elas. Elas visam dar ideias e não delimitar o que podem escrever. Escrevam um comentário (ou mais) tendo como quadro de referência as temáticas da pessoa, da mentalidade de grupo e do racismo.
Já agora, reparem que a imagem, apesar do filme respeitar a um enorme número de grupo étnicos, só contempla dois e um deles está representado por três dos quatro actores.