16.10.18

O choque macartista de Isabel Moreira

A deputada Isabel Moreira ficou chocada, no recente programa Prós e Contras com a comparação da historiadora Raquel Varela entre o #metoo e o macartismo. Do meu ponto de vista, o que é interessante é analisar a razão de tal choque. O que o macartismo, liderado pelo  senador Joseph McCarthy, pretendia era perseguir os alegados inimigos da América por alegadas atividades comunistas, consideradas pró-soviéticas em pleno início da Guerra Fria. Acabou por se tornar uma campanha de depuração ideológica dos Estados Unidos que, para lá de centenas de detenções, teve como principal consequência para milhares de pessoas a perda dos seus empregos e a destruição das suas carreiras. Isto foi feito não apenas pelas audições e investigações do Senado e da Câmara dos Representantes, mas por duvidosos procedimentos judiciais e privados, entre os quais figura a célebre lista negra de Hollywood (entre muitas que foram redigidas na altura em diferentes ramos). O ambiente vivido nessa época, até meados dos anos 50, era um ambiente de “caça às bruxas” (referência, aliás, também a um episódio norte-americano, em Salem) em que a simples denúncia bastava para destruir a vida do visado, sem necessidade de qualquer processo judicial ou qualquer prova, o que também foi notório até nos muito duvidosos processos judiciais que também ocorreram. Para lá dos comunistas visados, todos os que mostrassem preocupações sociais e até muitos que nada tinham a ver com as preocupações progressistas, por exemplo por serem homossexuais, foram banidos do seu emprego e/ou da sua carreira. Mesmo após a queda em desgraça da campanha, muitos foram aqueles que continuaram banidos dos seus ramos.
Ora, o movimento #metoo, sobretudo a partir da sua expansão em Holywood, mostra características muito similares, sobretudo no que se refere à pretensão de simples denúncias, sem procedimentos judiciais, provocarem o despedimento e o banimento dos acusados. Argumenta-se com a dificuldade da prova, essa chatice, da mesma forma que o macartismo julgava que os comunistas estavam infiltrados e dissimulados pelo Estado e por toda o tecido económico, sendo necessário aproveitar todo e qualquer indício para os desmascarar. Se não se chegou a mais audições no Congresso, como as recentes relacionadas com a escolha do juiz para o Supremo, deve-se apenas ao facto de os republicanos terem a maioria, tal como acontecia no macartismo, mas com um sentido inverso – onde o macartismo foi impulsionado pela maioria, as alegações sem provas e de há longo tempo foram agora reprimidas pela mesma maioria. É perfeitamente evidente que o movimento #metoo tem grandes esperanças nas próximas eleições exatamente por isso. Ver-se-á se o ativismo feminista associado, apesar de um presidente caricatural que tinha tudo para beneficiar os democratas, conseguirá beneficiar o partido que apoia ou se, pelo contrário, o prejudicará. Da mesma forma, também o banimento dos acusados pretendido pelo movimento tem sido mais limitado que o desejado, como, aliás, se verificou nas declarações de alguns intervenientes do programa Prós e Contras, ao identificarem casos de acusados que tinham perdido o emprego e que, entretanto, já se encontravam de novo a trabalhar. Para lá destas limitações resultantes da limitação do seu poder, há outras características similares ao macartismo, não só por os gestos mais irrelevantes do passado, mesmo contra a opinião de alegadas vítimas, poderem ser transformados em indícios acusatórios, mas por se constituir como um exército em que a mínima crítica ao seu sector é respondida com protestos ensurdecedores e a mínima acusação dá origem a um coro de apoio. Por exemplo, é concedido exatamente o mesmo estatuto de vítimas a atrizes que disseram não aos abusos e viram as suas carreiras destruídas ou muito limitadas, e aquelas que os sofreram, se calaram, deixando que acontecessem com outras, e beneficiaram, na sua carreira, desses abusos. Ora, seria muito mais improvável que aquelas tivessem as suas carreiras destruídas, se as outras dissessem não ou, caso fossem violadas, se queixassem do crime. Isso significa que parece, no mínimo, injusto serem postas no mesmo saco. Claro que se pode argumentar com o medo, mas nunca se especifica que medo é esse, pois isso levaria à mesma conclusão. Visto não haver qualquer relato de homicídios ou outras violências físicas, para lá das violações, associado a estes meios, pelo menos nas últimas décadas, o medo em causa parece ser o de ver a sua carreira destruída. Mas foi isso que aconteceu às que resistiram, preferindo tal prejuízo à contemporização com o abuso.
A deputada Isabel Moreira ficou chocada com o paralelo por uma simples razão: porque o macartismo é um movimento de direita e o #metoo é de esquerda, partilhando, aliás, com ela o ideário. Para Isabel Moreira, um movimento que atropela os procedimentos judiciais é bom se for para atacar alegados predadores sexuais, é mau se for para atacar alegados comunistas. Se o #metoo conseguisse tanto poder como o macartismo e estendesse a sua ação ao congresso e às empresas, conseguindo mesmo julgamentos sem provas que não as denúncias, parece óbvio que aplaudiria a vitória do movimento. Daí o seu argumento da empatia, um argumento que procura arrastar as pessoas pela adesão emocional, o que desde a Antiguidade é considerado um procedimento sofístico e demagógico, destinado a conseguir que as pessoas pensem o menos possível, analisem o menos possível e reflitam o menos possível. Aliás, essa é a linguagem de Hollywood que sempre manipulou ideologicamente através dos seus filmes, nomeadamente arrastando as pessoas emocionalmente, como, aliás, bem tem consciência o movimento feminista e LGBT e, por isso, tem feito inúmeras exigências para mudanças nos argumentos e nos elencos. Resumindo, a Dr.ª Isabel Moreira ficou chocada com o paralelo porque nem lhe passa pela cabeça que o objeto da crítica seja o tipo de procedimentos, autocrático e a tender para totalitário, e não tanto o conteúdo ideológico desses procedimentos. Da mesma forma, um filme manipulador que transmitisse uma mensagem conservadora da família e da mulher seria repudiado, ao passo que um filme manipulador que transmitisse uma valorização da ideologia da identidade de género já seria bom. O caráter manipulador de ambos seria indiferente ou só não seria na medida em que servisse de argumento contra a ideologia a que se opõe. Há algum tempo, acusou Ricardo Araújo Pereira de ser de direita (ou ter pensamento de direita) por defender o primado da liberdade de expressão, alegando que a esquerda subordinava tal liberdade às bandeiras da ideologia que defende. É difícil perceber que parte da direita macartista aqui referida seria favorável à liberdade de expressão. E é difícil porque quer de direita, quer de esquerda, quem subordina a liberdade de expressão ao seu roteiro ideológico é o extremismo. O problema é que o Ricardo não é extremista e o Mexia também não, embora seja um de esquerda e o outro de direita, ao passo que o macartismo e Isabel Moreira são. A cisão está aqui entre democráticos e moderados, de um lado, e extremistas e autocráticos do outro.
Que Isabel Moreira não veja qualquer problema nos procedimentos do #metoo ou minimize os seus erros não é de admirar, porque ela é afinal talvez a maior representante desses procedimentos aqui mesmo em Portugal. Por delitos de opinião, Isabel Moreira já exigiu que as ordens profissionais banissem profissionais, incluindo decanos prestigiadíssimos, por muito conservadoras que sejam as suas opiniões, como Gentil Martins. Não se limitou a criticar como estaria em todo o seu direito e até no seu dever, tentou, como noutros casos, obter uma resposta punitiva. Também esteve na linha da frente na luta contra a campanha antitabágica da princesa ou no caso dos cadernos de exercícios, com o respaldo do poder através da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, sempre exigindo proibições, mesmo que isso representasse o desejo de proibir manifestações de ternura da maioria dos portugueses (com as quais, aliás, eu nem me identifico). Isto, aliás, mostra bem como o PS se tornou refém da linguagem e atitudes do ativismo feminista não só de Isabel Moreira, como de amplos sectores do Bloco, que, em muitos aspetos que poderei descrever noutra altura, é contrário a muito do feminismo tradicional. No programa Prós e Contras, foi referida a microfísica do poder estudada por Foucault. Mas se essa microfísica é condenável pela sua normatividade, não a deixa de ser se for feminista ou LGBT, desde que seja igualmente autocrática no limiar dos hábitos que nem são objeto de crítica. Ora, o que pessoas como Isabel Moreira claramente procuram é instituir uma normatividade alternativa mesmo que contrária à vontade da maioria dos portugueses. Daí que não seja de admirar a forma como encerrou o debate, a criticar o resultado da consulta pública por já saber que o resultado lhe não seria favorável. Contra o alegado sexismo português, ergueu a sua condenação moral de iluminada, como sempre aconteceu com todos os fanáticos, incapazes de aceitar a diversidade e julgando-se justificados pela superioridade da sua doutrina, a verdade. E se há coisa que é óbvia em todas as intervenções de Isabel Moreira é a sua inflexibilidade tão fanática, quanto obtusa, incapaz de qualquer compreensão subtil da realidade, ancorada sempre em verdades absolutas. Já não é a primeira vez, a partir do meu canto insignificante, que lanço o aviso para o PS que sempre foi um partido moderado e defensor da liberdade de expressão: está a deixar-se colonizar por uma linguagem que é reflexo de um ideário extremista e autocrático, hipotecando a sua tradição.
Finalmente, há mais um aspeto em que o #metoo e o ativismo feminista recente, e o macartismo se aproximam, desta vez no âmbito do próprio conteúdo: o conservadorismo sexual, o puritanismo. Naturalmente, os seus ataques não incidem exatamente nas mesmas práticas, mas a mesma intenção puritana está lá, tendo como alvo as práticas de sedução, tantas vezes transgressoras até por parte de tantas mulheres (como posso pessoalmente testemunhar abundantemente, apesar de serem casos há muito passados como vários do #metoo). E não é de admirar que por cá, depois de décadas a lutar contra a direita a favor da educação sexual, seja o PS que tenha acabado de banir o seu caráter obrigatório. Também não é de admirar que o género e não o sexo, mesmo no que toca à igualdade, seja o que figura entre as temáticas obrigatórias. Só quem não estudou estes assuntos é que não percebe a importância destas mudanças terminológicas. A instituição da nova microfísica do poder emanada dos setores feministas ativistas e seus aliados ainda está no início e só um sector tem-se mostrado, lá fora, suficientemente forte para se contrapor a este avanço: a extrema-direita. Porque se era evidente há muito a ascensão da extrema-direita, devido à desindustrialização do Ocidente permitida pelo comércio livre, o aumento da dívida, a concorrência desleal da globalização, etc., só faltava mesmo este projeto autocrático à esquerda para dar uma ajuda à captação de fiéis para as fileiras da extrema-direita, visto as forças democráticas não terem capacidade de uma oposição eficaz ao discurso dito politicamente correto. O Brasil não está assim tão longe e não me admirava que um dia destes um Ventura, depois de ser menosprezado por toda a opinião bem-falante, se tornasse o nosso Bolsonaro ou o nosso Orban ou o nosso Trump. E, no final, é isto o mais triste: como é que o feminismo que garantiu uma extensa igualdade sexual jurídica, incluindo inúmeras disposições legitimamente diferenciadoras do estatuto da mulher, iniciou esta deriva intolerante que tenta impor um projeto normativo que se tornou intolerável? como é que os ativistas LGBT se não contentaram com a tolerância sexual legalmente consagrada que muito os protegia e desataram, em vários países, a impor normas de género contrárias às convicções da maioria da população e às próprias necessidades da convivência social? e como não viram que, se conseguissem sequestrar com estes projetos o poder moderado, como conseguiram em tantos países, estavam a empurrar vastos sectores da população para a extrema-direita? Naturalmente, não serão o único fator, mas, pelo que tenho ouvido da boca de tantos alunos ao longo dos anos, são um fator decisivo. Embora Bolsonaro ande a calar muitas das suas opiniões mais extremistas enquanto não tem os votos garantidos, fez questão de sublinhar a intenção de banir das escolas a ideologia do género. Fê-lo porque isso dá votos. Um outro indício ocorreu há algum tempo quando Judith Butler foi impedida de proferir uma conferência numa universidade brasileira não por velhos mas por jovens, tal como aconteceu tanta vez em sentido contrário nas universidades norte-americanas. Não é só a crise, o crime e a corrupção que impulsionaram Bolsonaro. Existe uma saturação das verdades absolutas da esquerda que tem impulsionado, por toda a parte, a extrema-direita. E o que é triste é que esta esquerda, convencida não só da sua verdade mas também do seu poder, tem alienado, arrogantemente, inúmeras pessoas de esquerda como eu ou a Raquel Varela que já não se podem rever neste ideário. Pelo menos, quando se verificar a ascensão da extrema-direita, estarei, enfim, a lutar e talvez a morrer do mesmo lado dessa esquerda. Mas não me esquecerei das suas responsabilidades...

23.9.18

Avaliação 1

     Para quem se tenha perguntado onde estava o "Avaliação 1", transcreve-se em seguida o comentário publicado no Facebook em 17 de setembro:  

     Há já um número razoável de anos, talvez vinte, lembro-me de estar numa formação onde, entre outras coisas, se tratou da avaliação. O formador era um desses exemplos acabados dessas aldrabices pedagógicas que procuram, através de uma relativização prévia, tornar tudo admissível, estratégia já tão antiga como a sofística. Os formandos, com exceção de mim próprio e de outro docente, pareciam aceitar tudo como a palavra de Deus, sem a mínima questão. Penso que o faziam sensatamente porque sempre que era questionada qualquer das suas teses vagamente anarquistas, o formador respondia de forma autoritária, sem minimamente se aperceber do caráter contraditório de tal atitude face às suas teses. Deve ser resultado de um treino especial alcançado nas ciências de educação, uma espécie de artes marciais da absurdidade retórica. Ainda recentemente tivemos um elogio de metodologias dinâmicas e um ataque cerrado às aulas tradicionais, através de uma longa peroração expositiva de mais de três horas. Mas, então, há vinte anos, estava uma destas figuras a atacar a pretensão de se avaliar uma pessoa através dos seus desempenhos. E eu, inesperadamente, vi-me a concordar com ele, tal era a evidência da absurdidade de se pretender avaliar pessoas através de desempenhos circunstanciais. Bom, não me pareceu que estivesse a dizer grande coisa, mas, mesmo assim, não podia discordar de um truísmo. Apenas fiquei mais uma vez descoroçoado por ver vários colegas embevecidos com a revelação, o que me fez ficar desconcertado com a ingenuidade alheia. Mas, de repente, percebi que, contra tudo o que eu estaria disposto a esperar, o formador estava a dizer aquilo para descredibilizar a avaliação dos desempenhos e defender a avaliação das pessoas. Ao longo dos anos, fui lendo e ouvindo a mesma aberração arbitrária reafirmada por tais sumidades e voltei a ouvi-lo no contexto atual.
     Quem no seu perfeito juízo pode pretender estar a avaliar pessoas, seja lá por que processos o faça? Como é que uma pessoa, essa entidade metafísica inefável, pode ser expressa em qualquer qualificação, seja ela de que tipo for? Que tipo de garantias de isenção pode ter uma avaliação que só pode ser uma interpretação subjetiva, no sentido mais arbitrário e abusivo que pode ter a subjetividade? Vejamos, um pouco, que é essa avaliação que só considera secundariamente os desempenhos, o que é que há nela que não é avaliação de desempenhos? Um portefólio é um desempenho que reúne desempenhos, uma intervenção oral é um desempenho, um exercício físico é um desempenho, um insulto dirigido a um colega é um desempenho, assim como um teste ou um trabalho são desempenhos. Tudo o que pode ser objeto de uma avaliação não arbitrária é um desempenho observável. Naturalmente, poder-se-á ter em conta fatores que atingem a pessoa e dos quais se tenha um conhecimento fiável, como, por exemplo, a morte de um dos pais do aluno, uma doença, etc. Mas esses fatores não são o objeto da avaliação, mas sim fatores que se devem ter em conta ao avaliar os desempenhos. De resto, é sempre com os desempenhos observáveis que lidamos, mesmo nos domínios considerados pessoais: este tenta se mostrar muito desgraçado, aquele, por introversão, tenta ocultar as desgraças por que, de facto, passa. Que resta então para lá dos desempenhos observáveis e das circunstâncias factuais apuradas? A avaliação da pessoa. Mas que pessoa é essa que está para lá dos dados observáveis? Com certeza que deve existir uma pessoa para lá do que é observável, mas que um docente tenha a presunção de a atingir poderá ser outra coisa senão uma construção subjetiva arbitrária? Pode, mas é algo ainda pior, é uma construção ideológica que se justapõe aos dados observáveis, com o objetivo de os falsificar e conseguir obter os resultados que se querem. Por mais calhamaços que façam a relativizar a avaliação para poder depois martelar à vontade os resultados, qualquer avaliação que não se cinja aos desempenhos observáveis, mesmo tendo em consideração outros fatores, é pura e simples aldrabice. Pior ainda, serve de sustentação para uma avaliação baseada nos estereótipos, preconceitos e reservas ideológicas que cada avaliador possa ter. Em última análise, essa relativização da avaliação dos desempenhos só serve para permitir que cada qual faça o que lhe apetece, sob o pretexto de estar a avaliar a pessoa. E se já vi tantos docentes e ideólogos pedagógicos a defender essa avaliação integral que transcende os desempenhos, pergunto-me porque é que não vi nenhum a defender que a avaliação dos docentes fosse uma avaliação das suas pessoas em vez do seu desempenho?

22.9.18

Avaliação 2


            Vamos por partes que o nevoeiro lançado pela propaganda para-educativa é tão grande que dificilmente se pode chegar a algum lado com uma abordagem global.
Primeiro, porque é que os testes escritos têm sido o instrumento de avaliação privilegiado? Porque permitem o controlo de quem o faz e de como é feito, ou seja, destinam-se a evitar aldrabices, como ocorrem nos trabalhos feitos pelos alunos fora das aulas, estando os alunos tão deseducados a este nível (pela escola) que nem têm consciência que plágio é crime. Imediatamente, a este propósito há professores que afirmam logo que os testes não garantem nada porque eles copiam e ainda há os que dizem que não são polícias. Pois, é claro que, se não cumprem o trabalho de vigilância, não se pode esperar resultados do que não existe. Um teste escrito é um instrumento de avaliação e de vigilância das condições em que aquela é levada a cabo. Se os professores não vigiam devidamente, não estão a cumprir a sua obrigação, tornam-se agentes de injustiça e, nesse caso, seria melhor que nem fizessem testes.
            Segundo, quando se afirma que o que importa é aprender e não fazer testes, há que perguntar, se se aprendeu, porque é que isso não pode ser revelado num teste escrito ou oral e se considera que são mais adequados instrumentos de avaliação que permitem mais facilmente a fraude? Será que se tem medo do que os testes possam revelar?
            Terceiro, é absurdo fornecer receitas comuns para os doze anos de escolaridade. Mesmo o velhinho Platão defendia uma aprendizagem exclusivamente lúdica nos estágios iniciais, evoluindo muito gradualmente, ao longo dos anos, para uma aprendizagem mais rigorosa, formal e abstrata. Tal evolução corresponde, igualmente, ao desenvolvimento das estruturas cognitivas analisado no construtivismo de Piaget.
            Quarto, os exames que têm existido no secundário favorecem o adestramento. De facto, a sua rigidez permite que existam bons resultados com métodos idênticos aos usados em animais para eles fazerem habilidades, podendo ser condicionados para executar gestos e aparentes comportamentos que, verdadeiramente, não correspondem a uma real aprendizagem. Um animal pode ser treinado para responder a perguntas estereotipadas com sons ou carregando em botões, sendo recompensado pelos simples desempenhos mecânicos, sem isso corresponder a qualquer compreensão. Daí que não sejam de admirar as conclusões de um estudo da Universidade do Porto que concluiu que os alunos provenientes das escolas privadas, após o melhor desempenho nos exames para que foram adestrados, acabavam por ter piores resultados que os alunos provenientes das escolas públicas no prosseguimento dos estudos. Por muito que as escolas públicas tivessem imitado alguns procedimentos das privadas, nunca puseram completamente de parte os objetivos formativos mais globais. Pelo contrário, alunos que foram intensivamente adestrados para os exames perderam três anos de uma formação mais real, mais global e mais útil para o desenvolvimento dos estudos superiores. Mesmo o facto de os alunos das privadas serem de um nível médio socioeconómico superior ao dos das públicas não impediu a maior dificuldade de adaptação à versatilidade das exigências do ensino superior.
            Quinto, mesmo que os exames se tornem menos rígidos, que não seja possível um adestramento tão estrito, que permitam avaliar conhecimentos e não a habituação aos procedimentos até aqui seguidos, não deixarão de ser exames, ou seja, provas escritas (ou orais, em certos casos) presenciais e submetidas a rigorosa vigilância. Determinados entusiastas da atual reforma (apesar de só não ser idêntica a outras antigas devido à muito pior implementação) ficam muitos satisfeitos com a perspetiva de se vir a separar completamente a avaliação do ensino secundário do acesso ao ensino superior. Como também já antes aconteceu, as provas de acesso poderão vir a ser feitas ou avaliadas nos estabelecimentos de ensino superior. Isso nunca alterará o facto de o sucesso desse acesso ser decidido pelo percurso anterior do aluno.
            Sexto, pelo motivo acabado de referir, pretender assegurar, antes de mais, a felicidade dos nossos alunos do ensino público secundário sem nos preocuparmos com o seu futuro é socialmente criminoso. A estas objeções, os representantes da confissão a que chamam ciências da educação respondem (pelo menos, em todos os casos que ouvi até hoje) com referências genéricas do estilo: “há lá fora estudos que mostram que os resultados não se alteram, mas ainda nenhum aqui foi feito” ou “os resultados desta ou daquela experiência situam-se na média nacional”. Qualquer pessoa que tenha trabalho nesta área sabe que isto são declarações absurdas. Tratar um assunto tão decisivo para as aspirações de vida dos nossos alunos com esta ligeireza revela intenções ideológicas que recusam qualquer refutação pelos factos. Aliás, é sabido que só se fazem declarações vagas deste género para ganhar conversas ou discussões, não para fazer verdadeiro trabalho científico. Por outro lado, dizer que está na média não quer dizer nada: pode ser muito bom no Vale da Amoreira e péssimo no Restelo. Depois, se os entusiastas provenientes dos círculos superiores dos estudos sobre a educação não cessam de utilizar como exemplo experiências como os da Escola da Ponte, porque é que, ao longo de todas estas décadas, ainda não fizeram um estudo rigoroso, quantificado, alicerçado em algo mais que retórica, sobre os resultados posteriores dos seus alunos, quer no ensino superior, quer na sociedade? Estes assuntos arrastam-se há tantas décadas que o facto de não se apresentarem estes estudos só pode significar uma de duas coisas: ou têm medo de os fazer porque já sabem quais serão os resultados (a não ser que os aldrabassem com retórica); ou já os fizeram e estão a ocultá-los de forma a não prejudicarem os seus desígnios ideológicos.
            Sétimo, ninguém aprende a nadar andando de bicicleta, ninguém aprende a interpretar um texto fazendo colagens da internet, ninguém aprende a fazer contas copiando o que o barra da turma fez. Uma característica dos agentes destas reformas é sempre o de fazerem uma profissão de fé prévia num relativismo: o que ensinamos não importa para nada porque não está adequado às profissões do futuro, o que se aprende pelos meios tradicionais é esquecido, o que avaliamos negligencia vários estilos de aprendizagem e vários tipos de inteligência, etc. É caso para perguntar, nesta relativização do saber, se nas profissões do futuro dois mais dois passará a ser cinco, se os poemas belos passarão a ser feios ou se a hidrólise passará a decompor, em vez do hidrogénio da água, urânio. Apesar de tudo, todas aquelas declarações têm alguma verdade, mas têm uma intencionalidade fundamentalmente enganadora, pois são seguidas pela apresentação de modelos que se destinam a encontrar sucesso seja de que forma for, sobretudo pela eliminação de controlos rigorosos das aprendizagens. Claro que dizem que não, que até a diversificação de instrumentos permitirá um controlo muito mais rigoroso e diferenciado, mas aí estes modelos confiam em algo que bem conhecem: a preguiça profissional. Despejam em cima dos professores uma catadupa incomportável de exigências burocráticas que tornariam a sua vida um inferno caso as cumprissem criteriosamente. O resultado é que, a pouco e pouco, facilitam até que finalmente se possa afirmar o sucesso global. A receita já é bem conhecida de qualquer docente. De qualquer forma, esse sucesso não garantirá qualquer preparação adequada para o acesso ao ensino superior que, de uma ou outra forma, será feito por testes que terão sido minimizados ou relativizados no ensino anterior.
            Oitavo, tal flexibilização e tal avaliação independente do prosseguimento de estudos já existe no ensino profissional e podemos ver o que significa no acesso ao ensino superior. Porque não se apresentam os dados quanto aos resultados obtidos por alunos do ensino profissional que se candidatam como externos aos exames nacionais? É fácil ver porque não se fazem tais estudos.
            Nono, separar, por completo, como já ouvi muitos dos entusiastas a afirmar e parece estar em algumas intenções de certos setores do poder executivo, a avaliação do secundário do acesso ao ensino superior, sobrevalorizando formas de avaliação discordantes das utilizadas nesse acesso, não poderá deixar de significar um aumento do fosso, no secundário, entre o ensino público e o ensino privado no acesso à universidade. Os pais e, por vezes, os filhos não deixarão de ter ambições sociais e procurarão as instituições de ensino que melhor garantirão o futuro. Estranhamente, a esquerda, como considera negativas as desigualdades sociais, muito embora não acabando com elas, não promove essa mobilidade social vertical que tem sido propiciada pela educação, não vendo que, caso os seus desígnios sejam realizados no ensino público, isso significará que se tratará de um ensino para pobres ou menos abonados que só terão acesso aos cursos e às instituições de ensino superior que os outros não quiserem.
            Décimo, a maior de todas as falácias do nosso sistema de ensino é a rejeição de que seja um sistema de seleção. É e tem de ser, e tê-lo-ia de ser mesmo numa sociedade igualitária que não deixaria de ter uma imensa diversidade funcional que haveria que satisfazer. Uma sociedade é um todo orgânico e é necessário cumprir nesse todo uma imensa diversidade de papéis. O sistema de ensino não surgiu para assegurar o simples cumprimento de direitos, mas para assegurar e melhorar o funcionamento da sociedade. O facto de ser seletiva não deveria, aliás, significar que fosse exclusiva. Um sistema de ensino adequado à sociedade que serve deveria permitir descobrir um lugar adequado para todos, parcialmente decidido pelas escolhas individuais, parcialmente decidido pela exigência das funções. Isto é o que já acontece, embora de forma certamente imperfeita, até porque os entusiastas que tenho vindo a referir insistem em rejeitá-lo porque, não tendo conseguido fazer uma revolução mais ou menos anarquista na sociedade, procuram fazê-la no sistema educativo, mesmo em completa contradição com a sociedade competitiva, estratificada e orgânica, com a esperança que a educação de hoje dê origem à revolução na sociedade amanhã e pouco se importando com o sofrimento a que dão origem ao estarem a criar inadaptados sociais incapazes de lidarem sequer com as vicissitudes do mercado laboral. O sonho, aliás, desses revolucionários encapotados não passa de um idílio sem substância como as referências de Marx, no Capital, à sociedade comunista, sem autoridade, sem Estado, sem divisão fixa do trabalho – e também sem existência possível numa sociedade industrializada, nunca mostrando como a sociedade sem Estado poderia provir do Estado socialista, da ditadura do proletariado. Quanto ao sonho tecnológico de deixar de ser necessário trabalhar, será possível nos países privilegiados enquanto o puderem ser. Para a maior parte da população humana, isso não passa de um sonho sem substância que, aliás, implicaria continuar a predação dos recursos do planeta até à sua exaustão. Sim, porque o trabalho humano é renovável e até necessário para a saúde quando não assume formas opressivas, ao passo que o trabalho maquinal usa sempre recursos não renováveis ou não multiplicáveis do planeta.
            Décimo primeiro, os entusiastas do modelo de dissociação da aprendizagem do acesso ao ensino superior falam sempre aos professores de forma paternalista, com a infinita compreensão de quem viu a luz e tem de ser paciente para com os seres limitados que lançam as suas dúvidas e objeções. Porém, essa luz dos entusiastas é, como todas as formas de fé, demasiado unilateral. Pegam num determinado ponto de vista vago, por exemplo, a aprendizagem em geral e acreditam piamente que o seu modelo será muito mais adequado para as exigências do futuro. Assim que são confrontados com os passos concretamente necessários para os nossos alunos poderem efetivamente realizar as suas ambições, refugiam-se nas generalidades como as das profissões de futuro, como se nessas profissões não se viessem a procurar, se tiverem condições para as contratarem, as pessoas formadas da forma mais exigente possível.
            Por fim, as pessoas que, ao longo dos anos, têm mantido as suas posições, seja de que lado for, ou que só as mudaram por uma evolução intelectual própria merecem o meu respeito. Porém, essas são sempre minoritárias. Também não vale a pena referir aqueles cujo único fito é ver onde e como trabalharão menos. Tão pouco me refiro a tantos que se mantêm prudentemente em silêncio. A maioria dos restantes estava há alguns anos a exigir que os testes “sumativos” pesassem 85 ou 90% na avaliação e agora já está a defender a conceção formativa da avaliação que está consagrada na legislação desde os anos 90. Ainda há não muitos anos fui proibido, por tal maioria, de ter uma conceção estritamente formativa dos testes (apesar de sempre diferentes e muito mais rigorosos que muitos “sumativos”), muito embora a alicerçasse na legislação, numa série de teorias pedagógicas e no próprio programa disciplinar, e de o ter escrito em diversíssimos documentos. Na verdade, essa maioria já passou por outras fases anteriormente. Se recuarmos aos tempos da Área-escola, a maioria chegou a situar-se mais ou menos numa situação próxima da atual. Agora diz que os DAC são diferentes unicamente porque aquela falhou e porque as designações mudaram. E apesar de já saber isto há muito tempo, não posso deixar de me continuar a perguntar: como se pode defender coisas tão contraditórias num tão curto período, só porque a tutela dá uma diferente indicação? Não estou a falar de obedecer. Eu sou funcionário, eu obedecerei. Estou a falar de defender uma posição, estou a falar de pensamento próprio. Ou será que não o tem, apenas seguindo o lado de que sopra o vento?

27.1.18

Objetivo central do Clube de Debate

O Clube de Debate é um pequeno contributo para uma tarefa titânica, porventura impossível: promover pessoas e combater a gente. Nenhum outro objetivo é mais importante. Trata-se de combater a tendência das pessoas desaparecerem sob a forma de gente. A gente é o coletivo indiferenciado, é “o que se diz”. “É o que toda a gente diz”, “é o que toda a gente faz”, “toda a gente sabe isto” – esta é a forma de cada qual desaparecer no meio de uma autoridade indiscutível que não é nada, nem ninguém, a que não se pode pedir contas até por não ser alguém que se possa responsabilizar. Se, de facto, fosse toda a gente nem seria necessário utilizar tal recurso argumentativo, mas a verdade é que a gente não se preocupa muito com a racionalidade. Tem a força do coletivo e essa força é especialmente eficaz não a expor razões, mas a anular qualquer razão que se pudesse apresentar.
Que tal atitude todos possa infetar não é surpreendente. Desde a minha juventude, tenho visto pessoas inteligentes e interessantes que, assim que enfileiram uma organização política, passam a ser soldados de um exército ideológico e não hesitam em ser incongruentes, falaciosos, desonestos, recorrer a todas as táticas primárias de intimidação e ridicularização, só para trazerem dividendos para o seu regimento. Tornam-se gente e aquilo que define a pessoa, a racionalidade, deixa de ser importante ou até passa a ser algo a combater. Vê-se isso nestas redes sociais, como indivíduos com qualidades se anulam dizendo a tudo que sim se vier dos seus chefes e apaniguados, por mais absurdo que seja, de forma acéfala, sem o mínimo espírito crítico, e repudiam veementemente tudo que lhes cheira vir de ou convir a adversários por mais razões que sejam apresentadas – e isso abrange gente de rigorosamente todos os partidos parlamentares. Por outro lado, é impressionante ver como homens que se dedicaram à política partidária voltam a ser pessoas quando abandonam essa vida política e acabam por mostrar quanto da sua individualidade reflexiva tinham castrado para servir as suas hostes. Enquanto membros de um coletivo e em prol do coletivo, havia que arregimentar, ganhar força, contar espingardas, não só (mas também) para fazer frente a outros coletivos, mas sobretudo para eficazmente esmagar pessoas. É a lógica dos grupos de bullies. Se temos força, se temos número, podemos humilhar, ridicularizar, violentar até – não precisamos de ter coragem, não precisamos de nos esforçar, não precisamos de argumentar pois temos o regimento para nos apoiar por mais disparatado que seja o que dissermos, o que fizermos ou o que impormos. Claro que isso é útil para confrontar grupos de rufias inimigos, mas primariamente o seu alvo são as pessoas, visto na sua fragilidade individual residir, por um lado, uma ameaça de pensamento livre que tais grupos abominam, mas, por outro, caso consigam quebrar a sua individualidade, também a possibilidade de reforço do exército com mais soldados. Não é, aliás, por acaso que as praxes, que ou tinham desaparecido, ou nunca tinham existido (conforme os locais e estabelecimentos) ainda há poucas décadas, tenham regressado com tanta força ou sido criadas do nada. Ali faz-se gente – é o que significa a alegada integração. Onde é que o espírito crítico que deveria ser apanágio do espírito académico se encontra nesses supostos detentores da vida académica é que é impossível dizer.
O Clube de Debate deveria ser a antítese dessa atitude, deveria ser um fórum da afirmação da individualidade crítica e reflexiva que se expressasse através da argumentação e não um confronto de seitas como os que vemos nos debates televisivos partidários ou futebolísticos, em que é raro o argumento decente que se apresenta, a razão do adversário que é considerada seriamente ou qualquer dialética que permita que algum desenvolvimento argumentativo nasça do confronto de ideias. Alguém que mantenha alguma integridade intelectual, ao estudar um pensamento adversário, tenta em primeiro lugar compreendê-lo, identificar as suas razões, examinar a consistência e valor dos seus argumentos e ponderar se as suas conclusões não poderão ter, afinal, algum sentido. Em tempos, estudei com alguma atenção o livro de Hitler, não para gozar com os seus argumentos ou teses, mas para tentar compreender as suas razões e o seu sentido, muito embora abomine as suas teses. Um partizan nunca faz semelhante coisa a não ser em relação aos autores canonizados na sua seita. Mas mesmo entre os partidos encontra-se sempre pessoas que resistem a este enfileiramento acéfalo. Lembro-me de dois excelentes historiadores, um conservador e outro esquerdista que nem, por isso, deixaram de mostrar, o primeiro, como a monarquia caiu de podre, não acreditando em si mesma, ao contrário do discurso habitual de certos setores conservadores, e o segundo, como o Estado Novo correspondeu-se ao desejo de uma solução autoritária comum à generalidade dos atores políticos, incluindo os próprios políticos da primeira República. Mas quão raras são estas figuras dado o ambiente tóxico dessas estruturas intelectualmente burocráticas a que chamam partidos.
Quem mantém alguma integridade intelectual não pode fazer aquilo que vemos ser feito pelos nossos políticos no Parlamento. É preciso que se diga: isso não é nenhum debate. Cada político reproduz um discurso estereotipado que todos os membros do seu partido proferem e está aparentemente impedido de considerar qualquer razão de um adversário (razões identicamente estereotipadas, é certo) a não ser com apartes, ridicularização, grunhidos diversos e gargalhadas alarves em conjunto com os parceiros que parecem um bando de ébrios arruaceiros já incapaz de um grau maior de argumentação. Quando vão à televisão, onde já não têm o seu bando a fazer coro, os políticos recorrem a todas as falácias clássicas e modernas, abusando da falta de educação lógica do público para conseguir dividendos com os argumentos mais grosseiramente defeituosos. Nunca consideram a argumentação adversária senão com variações diversas da falácia do espantalho, em que distorcem ou caricaturam a posição adversária até se tornar irreconhecível, para depois pretender refutá-la. Nunca tentam verdadeiramente compreender o outro, nunca há verdadeiro diálogo, trata-se de uma transmissão unilateral da propaganda própria que tem como única vantagem em relação à de uma ditadura, o facto de se consentir que vários divulguem a sua propaganda, isto claro se pertencerem a uma das seitas reconhecidas. Ora, nada disto é, ao contrário do que se busca fazer crer, um verdadeiro debate, uma luta argumentativa em que os argumentos adversários são considerados, ponderados no seu valor e validade, e respondidos não por argumentos que ignorem os argumentos contrários, mas por argumentos que incorporem os contrários, que os considerem no que se julga dever ser considerado, que rejeitem o que se julga dever ser rejeitado por argumentos melhores, que permitam ir além do que antes se foi e assim sucessivamente em cada ronda argumentativa. Só por isso o debate vale a pena. O debate permite efetivamente a evolução da nossa reflexão e o confronto com outras perspetivas faz-nos crescer argumentativamente. Embora possam existir fases de solidão, nenhum pensamento verdadeiramente rico e penetrante se constituiu sem ser em diálogo e em debate com os outros. Que não se confunda o verdadeiro debate com essa pantomina que vemos ser encenada nos media a fingir debates que não existem, com uma falta de integridade e de honestidade que tem vindo a afastar cada vez mais as pessoas de boa vontade desses meios pouco recomendáveis. Que antes se debata para melhor se pensar e não que se finja o debate, papagueando o discurso da fação, para nunca se correr o risco de pensar. Que se debata para se crescer como pessoa e não que se faça coro para definhar como gente. Que assim seja no nosso Clube ou ele não terá qualquer sentido.